Que cidade te habita?
Oração do caminhante urbano.
Nzambi protegei-me do cães, ratos e urubus desumanos, nas madrugadas violentas dirigidas a nós.
Andar altivo
com irmãos e irmãs , aproveitando o motivo da máquina de dinheiro, Andar
dia inteiro por um trocado mal pago. Andar por gosto nessa cidade com
jovens sedentos de conteúdo e zelo.
Andar na direção do mano Acácio que
também emigrou , mas, chegou primeiro. Andar graúdo e certeiro. Andar
pela área central, sem a correria e sem o medo do datena, sem a ojeriza
disseminada pelos dorianos.
Andar pelo centro da cidade localizando
os passos quase apagados de Gama, Correia Leite, K. Durham, Eduardo de
Oliveira e Oliveira, Carolina. Traços resitentes de Girlei, TC e banda
Zion, Kika, Lumumba, Bete Belle, Walquirria Rosa, Zé Francisco, do
Negra Mùsica.
Andar com Thais, Marcelo e o poeta fingidor reacionário.
Andar atrás do músico carteiro cantante "Negro, um clamor de justiça e
guerra, um clamor de justiça e paz." Responda-me quem canta? Eu te direi
quem tú és. Andar pela cidade que nós nega e consome.
Andar pela
cidade que mandou queimar nossos tambores, prendeu nossas sacerdotizas e
encarcerou nossos mestres. Andar pela cidade que resistimos e
existimos para além dela, dos seus mal mandatários, seus
higienizadores.
Andar pela cidade sabendo da nossa finitude, mas
também andar tendo em vista a precariedade existencial dos nossos
opressores, por mais que fixem seus nomes nos palacetes de mármore
branco e vidros espelhados.
Andar pelo que podemos ser, mas acima de
tudo pelo que nos é negado. Andar porque não somos gado indo pro abate,
somos gente, que pensa e sonha, cai e sente. Sampa Negra- Periferia,
contra cultura e anti-racismo. Saravá, Asé, Shalom, Salve Nzambi, Akba,
Aleluia.








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