Gosto muito do “povo” na rua sim.
Carta ao Jovem Amigo Daniel Fagundes
Gosto muito do “povo” na rua sim. Acho que tem várias
insatisfações no tabuleiro. Contudo, por enquanto é majoritariamente um setor
médio, urbano e escolarizado. Isso não diminui em nada o movimento. Entendo que
sair da letargia é muito importante e coisas aparentemente pequenas podem se
somar e criar um sopro de renovação nas formas tradicionais de fazer política.
Podemos superar as frases feitas, a política elaborada em cartilhas e teorias
universais.
Alguns estão correndo para capitalizar pra si: pessoas,
partidos, grêmios, Ongs. Faz parte do jogo. Por enquanto é um exercício, um
instrumento ativo-reflexivo pelo qual podemos aprender a fazer público, tudo
aquilo o que o é. Podemos sair de casa em nome de um indignação e perder o medo
da multidão de anônimos (Os Usuários de concessão de serviços públicos:
transporte e rodovias, saúde, educação, cultura, lazer, etc).
Podemos chamar a classe política soberba e ordinária para o pau,
encurralando-a, desabonando-a, tirando-lhe os privilégios (os salários, bônus e
foros especiais por exemplo). Podemos também confrontar a grande mídia
igualmente ordinária, subalterna e sebosa. Podemos pedir a cabeça do Ali Kamel
por exemplo. Também podemos dizer em voz alta para os grandes veículos de
comunicação, que não aceitamos mais sua baba monopolista, nojenta e cotidiana.
Nossas redes mostraram-se efetivamente importantes e sãs. Mas
por enquanto é um exercício para gente aprender a fazer política
cotidianamente. A Política deve deixar de ser monopólio dos lobistas, profissionais
dos partidos e teóricos academicistas saudosos, para se transformar em
ferramenta de micro–revoluções.
A campanha das “Diretas Já” era dirigida por partidos, o “Fora
Collor” foi assumido pela Grande Mídia, mas o silencio atual dos partidos e lideres
é bastante sintomático, não acha? Sabe por que? Eles foram surpreendidos,
porque estão ocupados demais gastando a grana dos PAC-Dermes das copas de
ouros, em quanto gente se sustenta nos Ás de paus.
Vou te contar:
ontem no fim da tarde caminhava pela USP- Universidade de São Paulo, quando vi
um grupo de operários saindo das obras da biblioteca José Midlin. Eram todos
jovens e negros. Brincavam entre si, enquanto caminhavam pelas alamedas da
maior universidade brasileira, em direção ao ponto de ônibus, onde os
ultrapassei.
Pensei na assepsia racial existente naquela
instituição, pensei em mim, nos meus filhos, nos meus netos. Na mesma noite
ouvi pela rádio USP o reitor Grandino Rodas, destilar veneno contra as
políticas afirmativas. Meu pai freqüentou três anos de escola intermitente nos
primeiros anos do governo Vargas. Agradeci a solidariedade do FDP do magnífico
Reitor. Pensei, nos trabalhadores na biblioteca de Alexandria. Meus avos
viveram na mesma fazenda que seus pais haviam sido escravizados na quebrada das
Gerais. Eu como aqueles rapazes tinha que portar um salvo conduto, carteira
assinada desde os 14 anos, senão era pau.
· Mas
eu não parei para chorar, ninguém na minha condição para. Só choro em velório e
passeata. em velório pela sensação de perda e em passeata pela sensação de
força.
Ainda dias atrás, não mais ontem, com o cancelamento das aulas na FSA, tive a oportunidade de chegar mais cedo em casa depois de andar apelo centro de SP e me comover com as "marchas por melhores dias" e transitar a esmo, tentando entender o que se passa. Ao ligar o Televisor e ver sempre as mesmas imagens, zapiei até selecionar a TV SENADO. Fiquei por alguns minutos ouvindo ao vivo o "histórico" SENADOR PEDRO SIMON. SIMON Com sua retórica peculiar cobrava providências da presidenta DILMA e mesmo tempo construía uma capa discursiva para eximir de culpa o legislativo. É provável que a assistência da TV Senado, naquele instante fossemos apenas, eu e o câmera e talvez outro SENADOR NEGRO REPUBLICANO, o PAULO PAIM, que se encontrava no plenário cochilando. Negro e branco, ambos eleitos pelo RS, dois partidos apaixonados pelo poder, ambos tramam e se conluiam pra nos foder.
Ainda dias atrás, não mais ontem, com o cancelamento das aulas na FSA, tive a oportunidade de chegar mais cedo em casa depois de andar apelo centro de SP e me comover com as "marchas por melhores dias" e transitar a esmo, tentando entender o que se passa. Ao ligar o Televisor e ver sempre as mesmas imagens, zapiei até selecionar a TV SENADO. Fiquei por alguns minutos ouvindo ao vivo o "histórico" SENADOR PEDRO SIMON. SIMON Com sua retórica peculiar cobrava providências da presidenta DILMA e mesmo tempo construía uma capa discursiva para eximir de culpa o legislativo. É provável que a assistência da TV Senado, naquele instante fossemos apenas, eu e o câmera e talvez outro SENADOR NEGRO REPUBLICANO, o PAULO PAIM, que se encontrava no plenário cochilando. Negro e branco, ambos eleitos pelo RS, dois partidos apaixonados pelo poder, ambos tramam e se conluiam pra nos foder.
· SIMON
e PAIM figuras vazias de um congresso igualmente vazio, uma representação
também vazia, e Simon discursando, discursando para moscas, até que a câmera
abriu uma panorâmica para que eu visse o senador Cristovam Buarque. Buarque
também solitário, com um olhar perdido no vazio do congresso.
· Fiquei
pensando o quanto eu admirei aqueles velhos senhores, um pela eloqüência, outro
pela persistência e outro pela suposta luta pela educação pública. Ambos
tentavam se esconder das fagulhas da fúria (pacífica) popular que explodiu em
todo país. os imaginei como ratos gordos e velhos. Ratos que se lembravam do
tempo em que roubavam queijos frescos na dispensa da CASA GRANDE e, que agora
discutiam como fazer para manter os pedacinhos de queijos que conseguiram
amealhar e carregar para seus buracos pessoais-locais-regionais.
Fiquei triste por eles e por mim que cri em vão nas mudanças graduais, nas idéias republicanas tipicamente brasileiras, na lisura das instituições, na depuração dos nossos defeitos como sociedade ao longo do tempo. Pensei nos republicanos que, Luis gama criticou a acabou sendo vítima.
Fiquei triste por eles e por mim que cri em vão nas mudanças graduais, nas idéias republicanas tipicamente brasileiras, na lisura das instituições, na depuração dos nossos defeitos como sociedade ao longo do tempo. Pensei nos republicanos que, Luis gama criticou a acabou sendo vítima.
·
Fiquei sabendo que o presidente do PT, mandou que juventude saísse pras ruas para confrontar os ativistas anti-partidários e não para se somar a eles. Observei silenciosamente de dentro ao longo dos anos 1990, quando a política partidária (em SP) se transformou um jogo de cinismo e hipocrisia. Vi quando certa hegemonia interna impôs expurgos, centralização e criou Ongs, empresas de fachada e se irmanou da burocracia. Apenas não percebi em que momento a agenda das organizações de trabalhadores foi seqüestrada pelo partido e que nunca mais a devolveu. Vi quando amigos de adolescência trocaram Grajaú, Pedreira, São José e J. Primavera por mansões na beira da represa, condomínios em Moema ou Flats nos Jardins.
Fiquei sabendo que o presidente do PT, mandou que juventude saísse pras ruas para confrontar os ativistas anti-partidários e não para se somar a eles. Observei silenciosamente de dentro ao longo dos anos 1990, quando a política partidária (em SP) se transformou um jogo de cinismo e hipocrisia. Vi quando certa hegemonia interna impôs expurgos, centralização e criou Ongs, empresas de fachada e se irmanou da burocracia. Apenas não percebi em que momento a agenda das organizações de trabalhadores foi seqüestrada pelo partido e que nunca mais a devolveu. Vi quando amigos de adolescência trocaram Grajaú, Pedreira, São José e J. Primavera por mansões na beira da represa, condomínios em Moema ou Flats nos Jardins.
Não falo da busca legítima pela
prosperidade não, fala da ganância e da soberba mais rudimentar. Falo de
perpetuação da cultura política baseada da apropriação do estado para negócios
privados. Penso em uma fotografia tirada em pleno Largo 13 de maio, com Gabriel
nas costas, e nós na campanha de um operário nordestino, que se fez uma das
lideranças mais importantes do país e que chegou a presidência da república e
foi sucedido por uma mulher.
Mas e daí?
Observamos que na semana de protestos a policia aquartelada e
zero chacina em São Paulo.
Intuímos que a evolução patrimonial de ex-secretários de
transporte municipais e estaduais, nos últimos 20 anos, explica tanto o alto
custo e mau serviço. Vamos seguir adiante, "agora já não nos importa
mais o que acontece dentro do muros do palácio".
Imaginem essa onda civismo e de boa vontade se espalhando pelas
assembleias legislativas, câmaras municipais, governos estaduais e municipais.
Imaginem banqueiros, grandes empresários e instituições patronais de repente
irmanadas desse clima de justiça e bem comum. Se acuado, o Congresso funciona 5
dias na semana. Se “sensibilizada”, a presidência governa para todos e com
todos os ministros trabalhando. Se instado, o Judiciário cumpre pauta. Se
denunciada, a polícia cria ações planejadas e quase age dentro da lei. Se o
impulso durou só uma semana, imagine se durasse um mês, teríamos a tão
prometida República e até o final do ano inauguraríamos um país, e talvez um
país democrático, justo e soberano.
"Essa noite não alugarei os meus ouvidos pra nenhum cristão
Essa noite não emprestarei a minha vida para nenhum
soldado"