O último Capoeira
Salloma Sallomão
“A
capoeira está quase sempre pra morrer e renascendo”. Palavras do Mestre
Maurício, em “Corrente Libertadora: O Quilombo da Memória” Direção Salloma Salomão, Tv-Fantasma- ABVP. 1991.
Afinal
, o que é Capoeira? Qual sua origem? Porque ela se disseminou pelo
mundo?
Negro
com berimbau- Marc Ferrez.
Diferente
da imagem clássica do capoeirista jovem, ágil e viril que habita nosso
imaginário, trata-se de homem negro de estatura média (1,65 m), barba rala e
branca, aparentando uns 60 ano de idade. Podemos inferir que seja um vendedor
de galinha. Mas ele era escravizado ou livre?
Porque
um fotógrafo ia se preocupar em registrar um negro qualquer, que nada tivesse
de singular ou ex-óptico?
Creio
que este homem negro é especial. Singular, porque portador de um objeto e um
saber que o distingue dos demais. Por isso "merece" o privilégio do
olhar do "outro", tal como negros Congadeiros, Vendedores ambulantes, Portadores de
Jóias , etc.
Rafael
Galante comentou: "Achei o
texto muito bacana Salloma, só que pensando na sua primeira pergunta, queria
saber pq vc acha que este senhor seria um capoeira?"
"Maior
é deus, pequeno sou eu...".
Um
círculo, um arco, um tambor e duas figuras humana testando os limites do seu
corpo, o equilíbrio de sua mente, perante um grupo de gente honrada, oponentes, não inimigos.
Minha viagem ( implícita) é um
debate sobre capoeira e identidade nacional. Mas....p
Há grande probabilidade de que
seja a primeira imagem fotográfica de um capoeirista. A fotografia acima foi
registrada no Brasil por Marc Ferrez (1843-1923), certamente na segunda metade
do século XIX, entre 1865 e 1890, o local é ignorado. O autor viajou muito e
fotografou as províncias, atuais estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas
Gerais, Pará, Pernambuco, Ceará, Bahia, Rio Grande do Sul.
Embora
não haja nenhuma casa ou edifício por perto, o arruamento bem definido ao fundo
e a cerca baixa de arame farpado, mourões serrados e bambu são indícios de um
ambiente urbanizado.
O que
poderia ser urbano no Brasil no meio do século XIX?
O
bambu trançado, ainda hoje usado, serve para impedir a fuga de galinhas e
passagem dos cães. Seria Rio de Janeiro? Seu
chapéu roto, sua roupa simples e gasta contrastam com a sandália e os embornais
(bornais) cheios. Que devem conter esses bornais? Alimentos, ferramentas ou
roupas?
Ele
não parece tocar o instrumento, mas apenas sustentá-lo para que o fotografo
retivesse a imagem. A posição de sustentação levemente inclinada e logo baixo
do peito, não condizem com a posição tradicional, mais vertical e á altura da
barriga. Sua origem seria, Kung, shona, Shosa, Bakongo, Baluba? Perguntem para Kazadi Mukuna, talvez haja algo sobre isso em "Contrbuilçoes bantus". Perguntem para Gerard Kubik e Tiago de Oliveira Pinto. Se os academicos falharem, retome a tradição oral interna a CAPOEIRA. Mas lembre-se nem todo Capão é Redondo. perguntem tambem pro Aristoteles Kandimba e Spirito Santo e por favro me ajudem.
Qual
é geografia dos arcos sonoros no continente africano?
Não temos uma mapa geral, mas mapas isolados de Moçmabique, Congo Zaire e Brazaville, Angola, Africa do Sul. Hungo, Umbulumbumba, Equilikembe, etc.
Não temos uma mapa geral, mas mapas isolados de Moçmabique, Congo Zaire e Brazaville, Angola, Africa do Sul. Hungo, Umbulumbumba, Equilikembe, etc.
O
nosso velho capoeira não porta um chocalho ou caxixi ( Vou chamá-lo assim). Sua
posição sugere uma condição estática. Seria resultado da idade? O instrumento não parece feito para
decoração, pois tem fitas e pequenas flâmulas. Seria apenas para divertimento?
Para esmolar no fim da tarde, depois da tarefa cumprida? Que tipo de cantigas
deveria entoar?
Berimbau
e Capoeira: Dois Mistérios da cultura afro-brasileira e mundial.
Tanto
o Berimbau quanto a Capoeira são enigmas não resolvidos na História da Diáspora
negra como da Cultura brasileira. Algumas dúvidas terríveis nos acompanham há
algum tempo e gostaríamos de vê-las resolvidas antes da derradeira viagem, não
que estejamos pensando em partir tão cedo.
As
questões abaixo somente valem para amigos e gente curiosa, que não aceita
dogmas culturais ou teóricos:
Se
berimbau e capoeira estão associados desde sempre, porque as mais antigas
imagens conhecidas de capoeira não trazem sua presença ( berimbau) com nitidez?
Não
há duvida de que este Arco Musical de percussão tem sua origem na África
Central, mas a partir de quando passou a ser reconhecido irreversivelmente por
este nome: Berimbau?
Porque
o processo de nacionalização da capoeira (1960-1980) coincide justamente com a
dispersão dos capoeiristas pelo mundo?
As
questões acima, para as quais espero respostas, divido com meus mestres
teóricos e práticos e quem mais se interessar pelo tema, a saber:
Eufraudísio
Modesto Filho- Capoeira e Produtor cultural; Gerard Kubik- Pesquisador;
Eufrásio, Mestre Tigrão- Capoeira; Luis Poeira- Mestre Tambor e Capoeira; Dra
Angela Lünhing- Pesquisadora; Dinho Nascimento- Mestre-Músico e Capoeira; Dra
Letícia Vidor- Capoeira e Pesquisadora; Sergio Souto- Mestre Músico; Décio Sá-
Mestre Berimbau e Capoeira; Dr José Carlos Gomes- Pesquisador; Guma –Mestre
Fotografo e Capoeira; Dr Kazadi wa Mukuna- Pesquisador; Marcelina Lunguka
Gomes- pesquisadora; Carlos Subuhana- Pesquisador; Allan da Rosa- Pesquisador
Poeta e Capoeira; Pernalonga- mestre capoeira e Produtor Cultural, Dr Tiago de
Oliveira Pinto- Pesquisador, Caranguejo- Mestre Capoeira, Paulo Dias-
Pesquisador, Dra Cris Wissembach- Pesquisadora, Aracurim - Capoeira, Dra Marina
Mello- Pesquisadora, Rodrigo Sá- Músico e Capoeira, Dr José Machado Pais,
Rasgado- Educador e Capoeira, Dr Pedro Adib- Pesquisador,Mafê Oliveira-
Sociologa e Capoeira,Mestre Deivison Nkosi- Pesquisador, Carlos Serrano-
Pesquisador, Kabenguele Munanga- Pesquisador, Kolela Kabenguele - Engenheiro e
Dancarino, Rafael Galante- Músico e Historiador, Daniel Koteban- Músico e
Capoeira, André Bueno - Músico e pesquisador, Pedro Cunha- Pesquisador e outros
tantos mais......
É viagem minha, ou há um pequeno berimbau na mão da figura em pé ao lado do tocador de tambor? E é homem ou mulher?
Se houver um berimbau ai, minha assertiva anterior estará totalmente furada......Rugendas não menciona instrumentos musicais no seu texto, parece que ficou mais impressionado com a violência do jogo. "Muito mais violento é outro jogo guerreiro dos negros, Jogar capoeira, que consiste em procurar se derrubar um o outro com golpes com a cabeça no peito, que se evitam pelo meio de hábeis saltos de lado e paradas. Enquanto se lançam um contra ou outro mais ou menos como bodes, as vezes as cabeças chocam-se terrivelmente." (Rugendas, 1834)
Capoeira- Ambigüidade a dinâmica cultural.
Se houver um berimbau ai, minha assertiva anterior estará totalmente furada......Rugendas não menciona instrumentos musicais no seu texto, parece que ficou mais impressionado com a violência do jogo. "Muito mais violento é outro jogo guerreiro dos negros, Jogar capoeira, que consiste em procurar se derrubar um o outro com golpes com a cabeça no peito, que se evitam pelo meio de hábeis saltos de lado e paradas. Enquanto se lançam um contra ou outro mais ou menos como bodes, as vezes as cabeças chocam-se terrivelmente." (Rugendas, 1834)
Capoeira- Ambigüidade a dinâmica cultural.
Chegam ao Brasil todos os anos levas não mensuráveis de capoeiristas austríacos, alemães, franceses, belgas, estadunidenses e também da Colombia, Venezuela e Argentina. Desembarcam principalmente no Rio, Salvador e São Paulo. São na maioria jovens do sexo masculino entre 19 e 30 anos. Vêem também mulheres em busca de aprimoramento de técnicas, de conhecimentos históricos, da compra de instrumentos, eventos e turismo. Alguns descobriram literalmente o Brasil através da prática da capoeira.
Mas afinal o que é a capoeira? No meio dos “capoeiras” a busca de uma definição, normalmente leva a polêmica. Por vezes parece que tudo se define em termos das duas vertentes estilísticas, Angola e Regional. Como será que eles (os estilos) se configuraram?
Como eu sou apenas um amante não praticante, posso me dar ao luxo de fazer divagações um tanto livres e é meu objetivo com este texto. Minhas credenciais para fazê-lo vêm primeiramente da herança. Fiquem calmos, não vou alegar minha origem africana, embora ela seja fato.
Meu pai era um tímido e solitário capoeirista presbiteriano, as primeiras noções que tive, aprendi com ele em suas horas de folga, por volta de uns nove anos de idade. Ele também na mesma época, me deu uma revistinha onde se ensinavam os golpes e seus respectivos nomes.
Se há alguma legitimidade nessa minha viagem, ela também advêm da convivência e aprendizagem (mais teórica do que prática) com grandes capoeiristas, entre os quais citarei apenas o Mestre Maurício, um dos criadores do grupo “Corrente Libertadora”, que tem prestado grandes serviços sócio-educativos e culturais a sociedade paulistana e brasileira, nos seus quase quarenta anos de existência, dos quais acompanhei, ao menos 25.
Na minha concepção, que é um apenas “jeito de corpo”, a Capoeira tem sido, dependendo das circunstâncias, simultaneamente: esporte, dança, performance, arma de defesa pessoal, luta, brincadeira e jogo. É uma prática e sabedoria de matriz africana amplamente divulgada no Brasil e no Mundo. A capoeira, para ser o que é depende da articulação de vários saberes e habilidades, entre os quais constam os preceitos ou fundamentos, a música vocal e instrumental, os corpos, os instrumentos musicais e o espaço. Mas isso não define nada, porque muitas práticas negras também são resultado desses vários elementos.
O fato de ser indefinível, não é necessariamente um problema. É um dos símbolos diaspóricos mais ricos exatamente porque os descendentes de africanos também vivem, em termos identitários, em um campo marcado por dilemas, ambigüidades indefinições. Têm origem na África e pertencem ás sociedades americanas, mas são ao mesmo tempo seus párias.
Ao ver o documentário “Mandinga em Manhattan”, fiquei a me perguntar? Como, porque e em que momento dessa história a capoeira começou a ser mundializada? Teria sido graças a intolerância cultural? A constante busca de alternativas sociais a discriminação racial dos jovens capoeiristas afrobrasileiros? Seria resultado a ausência de políticas culturais de valorização das culturas (inclusive negras) no Brasil?
Em outras palavras, jovens negro-mestiços praticantes de capoeira se viram forçados a emigrar, de seus estados de origem e também para fora do país em busca de melhores dias, enquanto isso a capoeira passou a freqüentar formalmente as academias de esportes de luxo e informalmente os currículos de escolas universidade de classe media, onde a maioria dos estudantes é branca.
Ao que parece desde os anos 1960 começou a ser incorporada pelo cinema e nos inícios dos anos 1970, lembro-me de ter assistido um capitulo do seriado Kung Fu, com David Carradine, apresentava um “escravo” capoeirista brasileiro. Um belo duelo era travado entre o Kung Fu e a Capoeira. A presença do escravo se explica, a história do episódio se passava nos EUA no final do século XIX.
Será?
Os viajantes europeus deixaram gravuras, pinturas e desenhos que comprovam sua prática no início do século XIX. Memorialistas narraram sua presença no Rio de Janeiro, Bahia, São Paulo, Pernambuco e Minas Gerais no final do mesmo século. Os historiadores localizaram processos de criminalização dos “Capoeiras” desde o 1830 e demonstram por farta documentação como ela foi se institucionalizando ao longo do século XX.
Com ajuda de cineastas e fotógrafos amadores e profissionais, seus praticantes nos deixaram vídeos, filmes, fotos e depoimentos orais espalhados pelas “academias”, centros de esportes, museus da imagem e do som e acervos particulares. Estes materiais diversos narram quase sempre uma mesma história de intolerância e resignação, perspicácia e ginga, dificuldades e superações.
Essa ginga é também carregada de ambigüidades, por exemplo, desde século XIX notícias sobre os “Capoeiras” os colocaram ao lado de políticos conservadores e em situação nem sempre muito dignas. Óbvio que em alguns casos trata-se de puro e flagrante racismo anti-negro e preconceito cultural. Outras mereceriam uma investigação e uma reflexão um pouco mais profunda.
Em umas dessas situações ocorridas no início da República, ao final do século XIX, seus praticantes no Rio e São Paulo foram acusados de alianças com monarquistas e da promoção de “pancadarias” em comícios e eventos populares. Alguns são acusados da formação de grupos paramilitares e vinculação a desconhecida e famigerada “Guarda negra”.
Ainda em São Paulo nos anos 1970/1980, capoeiristas renomados desapareceram em situações violentas onde os personagens são matadores de aluguel, grupos de extermínio e outras circunstâncias descritas nos boletins de ocorrência pelo jargão “reação armada à abordagem policial”.
Como se deram esses processos de institucionalização e mundialização? Ou melhor, o que quero dizer com estes termos? Não há duvida que a Capoeira foi criada no Brasil, também não há duvida de que os elementos que a constituem, quais sejam, a música, a dança ou movimentos coreográficos, os preceitos filosóficos, os instrumentos musicais surgiram no Brasil, a partir de elementos africanos, entre fins do século XVIII e meados século XIX. Mas é surpreendente o fato deque nos últimos apareçam focos de praticantes de capoeira no Marrocos, na Hungria, Espanha, Itália, na Portugal. Alguns destes lugares com forte persença de afro-brasileiros e outros por onde talvez eles nunca tenham estado. Ou será que? com deve se dar aprendizagem, qual o papel da língua no processo de difusão?
Por outro lado a Capoeira é cada vez mais evocada como símbolo cultural do Brasil.
E ai?
Visite: http://www.irmaosguerreiros.com/
Procurem por Pedro Abib (Pedrão de João Pequeno) que é professor da Universidade Federal da Bahia, músico e capoeirista, formado pelo mestre João Pequeno de Pastinha. Publicou os livros “Capoeira Angola, cultura Popular e o Jogo dos Saberes na Roda”(2005) e “Mestres e Capoeiras Famosos da Bahia”(2009). Realizou os documentários “O Velho Capoeirista” (1999) e “Memórias do Recôncavo: Besouro e outros Capoeiras” (2008).
Visite: http://capoeiraluandae.blogspot.com/2011/01/cronicas-da-capoeiragem-pedro-adib_25.html
Citar fonte. SILVA, “Salloma” Salomão Jovino da. O Último Capoeira. http://mosaiconegrobras.blogspot.com .
ie kamugerê!!1
ResponderExcluirGrandes questões!!!
se abrirmos mão da noção frequentemente difundida da cultura como algo autônomo ou estático fica evidente que a cultura negra brasileira, embora de matriz africana se reconstroe ao longo do tempo a partir de necesidades históricas e condiçoes existentes em cada momento. Assim foi com a religiosidade, que conservando muitos elementos se reinventa e segue contruindo-se até hoje...
Penso na minha engatinhês que a capoeira foi sendo forjada cuidadosamente ao longo dos tempos e este bolo crescido que vemos hoje é apenas o fruto de uma longa tragetória... não explica o todo. Aliás o todo, como dizia pastinha "é tudo que boca come"...
O berimbau existe em muitas partes do mundo bantu com outros nomes, sendo tocado com ou sem baqueta... a capoeira-mae (ou simplesmente capoeira) que se diz nascer na Bahia, aparece em outras regioes do Brasil (talvez pela micgraçao interna dos africanos escravisados e espulsao dos bainos ou porque existiam africanos com cultura similar ao Recôncavo em outras partes do Brasil?), Em São Paulo, encontramos a Tiririca (ou a pernada paulista), com todos os elementos da capeoira, mas sem o berimbau, muito parecido com o Ngolo - Uma dança angolana que provavelmente é uma das matrizes da capoeira.
Ainda existe muita coisa a ser descoberta e que a imagem que temos sobre a gênese da capeoira ainda é muito distante da realidade, restrita a memoria dos nossos ancestrais do sec XX (com excessao dos registros policiais das maltas no final do sec XIX). O que será que existia antes disto? não acredito que seja a capoeira que conhemos (ou pelo menos com todos os signos que elegemos ou entendemos atualmente como parte da capoeira...
mas valeu a provocação. Me corrijam se estou atravessando.
Abraços mandingueiros
caro amigo Salomão. Um comentário periférico: sou amigo do Caranguejo desde criança!
ResponderExcluirabraços!
Rogério
Valeu Boy Roger
ResponderExcluirEsse cara circula pra caramba.
Abs
Salloma
Muito que outros começem a ver os verdadeiros capoeiristas a partir dos ancestrais. Aqui no nosso Maranhão ainda se fazem o rucungo ou marimba, que nada mais é que um berimbau. Os capoeiristas dos quilombos ainda fazem todos os passos feitos pelos tiriricas de São Paulo - vide gravura de Rugendas em 1880 ou 1890 nos arredores do Rio de Janeiro - e busquem conhecer os pungadores do Maranhão que ainda resistem como capoeiristas ancestrais no Vale do Itapecuru.
ResponderExcluirBela foto, sensacional!
ResponderExcluirO urucungo é um instrumento utilizado em pequenas viajens, como forma de "passar o tempo" e ditar o ritmo da caminhada (porque não, também uma arma de defesa contra animais ou outros seres humanos mesmo...), tendo sido muito empregado no Brasil por negros escravizados que tinham que fazer longas caminhadas. Digo isso porque pode ser que o homem da foto nem seja um capoeira (no sentido moderno do termo) mas um viajante, vendedor de galinhas e alimentos (daí suas sacolas cheias).
Sobre a Tiririca, citada por kamugere, não me parece que seja parecida com o Ngolo... me parece mais próxima do samba mesmo.
Embora, tenha uma longa biografia do autor da publicação da foto, creio que a verdade é exclusivamente de quem a inventa, principamente quando não causa interesse a nenhuma camada social.
ResponderExcluirNão creio que seja a foto do ultimo capoeirista ou mesmo que a arte esteja morrendo. Ela se cria atraves das muitas crianças seguidoras dessa arte, e recria na sociedade,hoje os curriculuns escolares de Escolas Municipais/Estaduais, Faculdades,. tem a capoeira como esporte.
O que é de bom para o povo NÃO MORRE. SE RECRIA E VIVE COMO A SEMENTE DE UMA ARVORE, RESISTENTE NAS SUAS RAIZES.
abraços
Hoje sabemos que o arco musical de corda única existe/existiu em quase todas as culturas e em vários continentes. É certo tambem que, no Brasil, chegou com o tràfico negreiro. Chegou na forma de conhecimento, não materializado, num porão e ainda menos provável, nas caravelas que cruzavam o Atlantico. O conhecedores do instrumento encontraram no novo ambiente, condições de recria-lo, buscando dessa forma estar mais próximos de sua vida e história que lhes foram tiradas.
ResponderExcluirIsso se repete nas relações pessoais, na comida, na religiosidade enfim em todas as formas de resistencia não violenta buscando resgatar/preservar sua humanidade negada.
A capoeira é um outro momento e historicamente deve ser mais recente que o advento do berimbau.
Aprendi que o berimbau era mais usado por escravos de ganho que vendiam quitutes ou doces nas feiras e festas, valendo-se do instrumento para atrair a atenção da freguesia. Ora, as rodas de capoeira que inicialmente eram ritmadas com pequenos tambores e palmas, aconteciam no mesmo espaço público e não é difícil imaginar um vendedor aproximando-se da roda e um capoeira mais "musical" comprar o berimbau e naõ o quitude.
É só especulação como a maioria das histórias, mas gosto muito dessa. E é assim que explico aos meus alunos da capoeira a possível origem do berimbau na capoeira.
Quem tiver uma melhor conta aí, que terei o maior prazer em ler. Abraço
Décio Sá
Salvem camaradas!
ResponderExcluirSalve, Salloma!
Sou amigo de Rafael Galante e inclusive li sua tese sobre sonoridades negras. Em minha dissertação sobre capoeira em SP, a uso como parte de uma discussão exatamente sobre o berimbau como símbolo da construção de identidades na capoeira. Como já disseram acima, se não fazia parte da capoeira diretamente, no séc. XIX, estava nos mesmos espaços, fazia parte da cultura de raíz africana e escrava, assim pode ser transformado em símbolo da capoeira moderna sem grandes conflitos, no início do séc. XX, quando mudanças sociais, econômicas e políticas, incluindo a perseguição policial, levou a mudanças em todas as manifestações de origem negra. Apenas para registrar, sobre a tiririca, temos em SP registro de samba sendo dançado com acompanhamento do urucungo. E sobre a foto que vc postou, acho que vale publicar a pituria de Chamberlain, "As mulheres do mercado do Rio de Janeiro", que mostra, ao fundo, exatamente um vendedor de galinhas (o carregador de capões, denominado 'capoeiro', segundo Rios Filho), em uma feira no centro da cidade, a tocar um urucungo.
Abraços a todos!
Pedro Cunha
Ola Pedro.
ResponderExcluirPode me passar teu email? Salloma
Abs
Salloma
Salloma,
ResponderExcluirApenas divagações, sem elementos que fundamentem minha suposição. Ocorreu-me que, talvez, o berimbau fosse usado pelo "sexagenário vendedor" como espécie de "canto" para avisar a freguesia sobre sua passagem, servindo também como forma de "passar o tempo" nos momentos de descanso ou no fim do expediente.
A propósito, semanas atrás assisti a performance de um músico de Moçambique na Casa das Caldeiras, com um instrumento que, acredito, seja o "pai" ou "avô" do berimbau. Mais longo, com o arco e a barriga invertidos. O som, porém, era semelhante ao do berimbau.
Bebel Nepomuceno
Olá Salloma,
ResponderExcluirGostei muito do teu texto. Faz pensar em muitas coisas: lugar social da cultura afrobrasileira; cultura e política; história..viajei! Hheheh orbigada e abraços, Vera!
Oi Salloma,
ResponderExcluirFoi enriquecedor, pra mim, a leitura do teu texto e os comentários.
Acho a cultura negra muito rica e apaixonante.
Também gosto de assistir rodas de capoeira, principalmente àquelas que são destinadas a trabalhos sociais em comunidades carentes.
Eu gostaria de saber onde você conseguiu a foto que ilustra teu texto. Estou fazendo um trabalho sobre fotos antigas e gostaria, se possível, usá-la.
Saloma querido, parabens pelo seu blog
ResponderExcluirProfessora Neide Sabino
Discussão boa, vital. E se fundiu a coincidência no Português Brasileiro: fala e canto foram aproximando a palavra kaa'pwera tupi (mato de roçado deixado) a essa palavra portuga para os cestos/gaiolas de capões (frangos), através de seus "capoeiros" vendedores. Quem trabalhava no campo sabia da capoeira mato ralo, quem trabalhava na cidade podia saber mais da capoeira cesto/gaiola. Sujeitos negros no coração da história; ação e memória. Abraço sempre. ABueno
ResponderExcluirSalloma,
ResponderExcluiradentrando à conversa só pra dar uns pitacos despretensiosos. Conheces o livro de José Redinha, Instrumentos Musicais de Angola, publicado em Coimbra?
E outra. Em uma versão antiga do Caldas Aulete definem Berimbau como "um instrumentozinho sonoro de ferro, em forma de lira, com uma lingueta de aço entre os dois ramos, presa na parte arredondada. [Toca-se metendo-o entre os dentes e percutindo com o dedo indicador e o extremo livre da lingueta]". Eu nunca vi algo assim; o que eu até agora conhecia como berimbau é o que no Aulete chamam de Berimbau-de-barriga.
Neste link http://1.bp.blogspot.com/-XRxjAy3tTmw/TZlKSRuobkI/AAAAAAAABlI/8qSWSH4rZSA/s1600/Debrettt.jpg há a imagem que você comentou em mais alta resolução. Posso estar muito enganado, mas a mulher ao lado do tocador de tambor não está tocando berimbau.
ResponderExcluir(Saloma, copio a nossa continuação, que andava no outro sítio. ABueno) Pra apoiar, vide tocador único de berimbau nas imagens da Missão de Pesquisas Folclóricas, em São Luís-MA 1938: ele toca um "carimbó" e uma só mulher dança. E duas gerações ficaram pensando coisas parciais, dessa visão. Abçs.
ResponderExcluir-- (c/ propostas rafa e salloma)
(Rafa tocou na aproximação possível entre capoeira = mato ralo, capoeira =cesto de capão e a Tiririca paulista)
Justo, se aproxima através de sujeitos negros, e brancos pobres, por todo um período de passagem. Não só um momento. Que a tiririca paulista vem depois, né, de já existir uma capoeiragem brasileira geral, não é isso? Mas no papo do berimbau...: Kazadi mostrava imagens angolanas com berimbau num povo e jogo de iniciação de meninos no outro. Dizia que quando os bantos se apropriavam do berimbau dos vizinhos, somavam repertório em língua banta a uns pedaços ("fórmulas") de cantos ou frases de arco da fonte !Kung (um povo que estava lá, como os pigmeus, antes da expansão banta, não é isso?). Depois foram bantos que caíram mais nas malhas do tráfico, e vieram. Kazadi sustenta que berimbau JUNTO com o jogo de corpo, é no Brasil.
--
Ah, Rafa! Se aproximam Capoeira mato ralo e Capoeira jogo em "Tiririca é faca de cortá/ Segura esse nego de sinhá"... (também "Tiririca é navalha de cortar...), um canto de capoeira que fala no capim tiririca (capim que raspa a pele, de quem anda nos matos). Vai ver que um jogador da tiririca, lá no Largo da Banana, na S. Paulo de 1920, cantava isso (aprendido com capoeiras, possível), e virou apelido... No caso, capoeira-mato e tiririca-mato se aproximam na roda, no canto, mais que no sentido literal da palavra. No seu uso cantado e conotado. Prática de iniciados, que se entendem na sua conotação de grupo. Como eram iniciados grande parte dos africanos chegados, já com 18, 20 anos, acostumados a se reservar sentidos de grupo, pra certas palavras. Que acha? (Salloma deu ok, olha a gente ainda se vendo aqui, abraços ABUENO - Bumba-boi maranhense em S. Paulo)
Olhando aqui de novo pra esta foto do vendedor velho: bater o São Bento pra chamar atenção da freguesia. Lembrando que os toques São Bento de berimbau de capoeira ganharam esse nome ressoando o BLEM dos sinos de igreja das horas grandes: "Deu meio-dia lá no São Bento!" E vai... São Bento era sino marcando hora pra cidade, era cobra pra gente do campo, era toque pros capoeiras que transitavam e libertavam. Abraço. ABueno
ResponderExcluirBuscando uma foto de Mestre Roque do RJ achei esta sua, pungente, dolorosa, lindíssima!
ResponderExcluirValeu Malungo!
Belo blog!
Axé!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMUITO MASSA ! ! ! !
ResponderExcluirwww.capoeiranofiodanavalha.blogspot.com