Da plasticidade dos corpos em movimento, ao flagrante eternizado das giras paulistas.
É curioso que não se tenha pensado na perturbação (de civilização) que este ato nos trás. Gostaria que existisse uma História dos olhares. Porque a fotografia é o aparecimento do eu próprio como outro, uma dissociação artificiosa da consciência da identidade.
Roland Barthes
Acredito que Guma é, antes de qualquer coisa, um cara apaixonado pelo movimento. Sendo capoeirista sonha eternizá-lo de alguma forma e a fotografia lhe pareceu a técnica mais adequada. Ele percorre quintais, casas, praças, ruas, becos, vielas, casas de cultura e Ongs, locais onde pessoas de muitos tons e principalmente de ascendência africana se reúnem para cantar, dançar e celebrar a vida. Considerando o contexto, estes são atos tanto simbólicos, como políticos que sua sensibilidade aponta e sua câmera fotográfica digital captura.
Leonardo Martins Galina flagra/grafa instantâneos desse processo cultural diversificado e rico às margens da metrópole e disponibiliza o acervo aos capturados. Quando eles se miram, pessoas e grupos participantes revêem suas viagens no tempo-espaço. É uma atitude pouco comum aos etnógrafos do passado e aos fotógrafos contemporâneos mais renomados. Aqueles geralmente estetizam a miséria e publicam livros requintados e caros, objetos do consumo fetichizado de luxo, objetos estranhos aos fotografados. No caso de Guma é um retorno dado pelo autor ao próprio público e á comunidade em geral. Ao mesmo tempo constrói um discurso visual absolutamente singular do fenômeno sócio-cultural contemporâneo. O resultado do seu trabalho é um Giro de Olhar sobre práticas culturais afro-brasileiras da periferia paulistana e da grande São Paulo. (Outras periferias nacionais também lhe ocorrem)
Em seu conjunto as imagens revelam plasticidade, beleza, diversidade cultural de um setor social geralmente estigmatizado como violento. É o olhar atento do jovem fotógrafo sobre seu próprio universo sócio-cultural. Revelação de processo da construção cultural da cidade, reconstrução da cidade. Seu trabalho cria um panorama inédito e uma abordagem intimista das cenas do cotidiano urbano. Trata-se de um registro tecnicamente maduro da singularidade das rodas, onde grupos variados aos sons dos tambores e cantos recriam “batuques” e destilam dendê.
Musicalidades afro-paulistas atuais guardam especificidades em termo de contexto, mas têm muitos vínculos históricos e estéticos com as Cirandas, Jongos, Congos, Maracatus, Sambas de Roda e etc., culturas trazidas por migrantes do centro oeste, norte e nordeste do país para a região metropolitana de São Paulo. Algumas dessas “giras urbanas” são realizadas nos arredores da metrópole, nos territórios do remoto Quilombo da traição citado em documentos do século XIX. Roças e terreiros, que no passado eram usados também pelos Congos e Umbandas (ainda que combatidos pelos adeptos da intolerância religiosa) desenvolvidos na Paulistânia, por africanos e seus descendentes aportados por aqui desde o século XVI. Dessa forma, desvela-se uma cidade de São Paulo cultural, histórica e visualmente ignorada, contudo, rica, negra, diversa e dinâmica.
Da plasticidade dos corpos em movimento, ao flagrante eternizado das giras paulistas.
É curioso que não se tenha pensado na perturbação (de civilização) que este ato nos trás. Gostaria que existisse uma História dos olhares. Porque a fotografia é o aparecimento do eu próprio como outro, uma dissociação artificiosa da consciência da identidade.
Roland Barthes
Acredito que Guma é, antes de qualquer coisa, um cara apaixonado pelo movimento. Sendo capoeirista sonha eternizá-lo de alguma forma e a fotografia lhe pareceu a técnica mais adequada. Ele percorre quintais, casas, praças, ruas, becos, vielas, casas de cultura e Ongs, locais onde pessoas de muitos tons e principalmente de ascendência africana se reúnem para cantar, dançar e celebrar a vida. Considerando o contexto, estes são atos tanto simbólicos, como políticos que sua sensibilidade aponta e sua câmera fotográfica digital captura.
Leonardo Martins Galina flagra/grafa instantâneos desse processo cultural diversificado e rico às margens da metrópole e disponibiliza o acervo aos capturados. Quando eles se miram, pessoas e grupos participantes revêem suas viagens no tempo-espaço. É uma atitude pouco comum aos etnógrafos do passado e aos fotógrafos contemporâneos mais renomados. Aqueles geralmente estetizam a miséria e publicam livros requintados e caros, objetos do consumo fetichizado de luxo, objetos estranhos aos fotografados. No caso de Guma é um retorno dado pelo autor ao próprio público e á comunidade em geral. Ao mesmo tempo constrói um discurso visual absolutamente singular do fenômeno sócio-cultural contemporâneo. O resultado do seu trabalho é um Giro de Olhar sobre práticas culturais afro-brasileiras da periferia paulistana e da grande São Paulo. (Outras periferias nacionais também lhe ocorrem)
Em seu conjunto as imagens revelam plasticidade, beleza, diversidade cultural de um setor social geralmente estigmatizado como violento. É o olhar atento do jovem fotógrafo sobre seu próprio universo sócio-cultural. Revelação de processo da construção cultural da cidade, reconstrução da cidade. Seu trabalho cria um panorama inédito e uma abordagem intimista das cenas do cotidiano urbano. Trata-se de um registro tecnicamente maduro da singularidade das rodas, onde grupos variados aos sons dos tambores e cantos recriam “batuques” e destilam dendê.
Musicalidades afro-paulistas atuais guardam especificidades em termo de contexto, mas têm muitos vínculos históricos e estéticos com as Cirandas, Jongos, Congos, Maracatus, Sambas de Roda e etc., culturas trazidas por migrantes do centro oeste, norte e nordeste do país para a região metropolitana de São Paulo. Algumas dessas “giras urbanas” são realizadas nos arredores da metrópole, nos territórios do remoto Quilombo da traição citado em documentos do século XIX. Roças e terreiros, que no passado eram usados também pelos Congos e Umbandas (ainda que combatidos pelos adeptos da intolerância religiosa) desenvolvidos na Paulistânia, por africanos e seus descendentes aportados por aqui desde o século XVI. Dessa forma, desvela-se uma cidade de São Paulo cultural, histórica e visualmente ignorada, contudo, rica, negra, diversa e dinâmica.
que legal a ideia deste blog!
ResponderExcluirpena que a estampa do fundo e a cor escolhida para o texto em alguns momentos confunde a leitura.
beijosss
Que os Deuses abençôem as iluminadas palavras que o camarada aí a cima desfila sobre o trabalho tão cheio de amor e único do nosso guerreiro da poesia do visto.
ResponderExcluirSempre desejei conseguir por em palavras algo que chegasse perto de explicar o que sinto quando o vejo o que o Guma vê e eterniza.
Mas não sou "chegada" das palavras, inda bem que nem precisei...tá tudo dito (escrito) aqui nesta postagem.
"destilam dendê" tem tudo a ver com o que vivemos e fazemos pelas bandas de cá. PARABÉNS pelo blog, pelas palavras e pela escolha do porque lutar.
Oi Paula
ResponderExcluirObrigado.
Então estamos combinados, voce canta, Guma fotografa e eu escrevo.
Bjs
Salloma
Estupendo o blog. Muito bom. Recomendo.
ResponderExcluirParabéns!
ResponderExcluirObrigada pelo convite enviado ao meu e-mail, o blog está demais. Concordo com o primeiro comentário postado que a cor confunde um pouco na leitura.
Grande abraço e sucesso Salloma Sallomão!
Saudade...
ResponderExcluirNossa!Quanta plasticidade,musicalidade e encanto nests página!
ResponderExcluirParabéns!!!