Televisão, racismo antinegro e teledramaturgia.
Globo e racista até quando intenciona não sê-lo
O que a Globo quer nos dizer ao mostrar nas suas novelas uma sociedade total e completamente branca?
Todos meus amigos sabem que adoro assistir telenovela. Contudo há muitos anos trabalhando a noite fica bem difícil assistir, mas faço um esforço para me atualizar nos sábados livres. Sem psicologismo, não me pergunte por quê. Avento a hipótese que as novelas ocupam um lugar parecido com as estórias intermináveis que meus pais contavam na nossa infância em Minas, quando não tínhamos televisão. Já na adolescência aprendi a ver criticamente a TV e igualmente as telenovelas, exercício comandado pelos irmãos e irmãs mais velhas. Dessa maneira aprendemos a criticar o enredo, a trama, a direção, interpretação, etc. Aprendi ao poucos a entender a manipulação implícita e as lições morais das tramas.
Todos meus amigos sabem que adoro assistir telenovela. Contudo há muitos anos trabalhando a noite fica bem difícil assistir, mas faço um esforço para me atualizar nos sábados livres. Sem psicologismo, não me pergunte por quê. Avento a hipótese que as novelas ocupam um lugar parecido com as estórias intermináveis que meus pais contavam na nossa infância em Minas, quando não tínhamos televisão. Já na adolescência aprendi a ver criticamente a TV e igualmente as telenovelas, exercício comandado pelos irmãos e irmãs mais velhas. Dessa maneira aprendemos a criticar o enredo, a trama, a direção, interpretação, etc. Aprendi ao poucos a entender a manipulação implícita e as lições morais das tramas.
A percepção da Globo com um canal racista, foi sendo
modulado por uma capacidade crescente de observar e absorver o mundo pelo olhar
de um sujeito social coletivo e de difícil apreensão chamado Movimentos Negros.
Foi com ele que comecei a identificar a recorrência de papeis de domésticas de
grandes atrizes e atores negros e negras. Artistas que bem mais tarde soube
terem participado de um grande projeto político estético chamado TEATRO
EXPERIMENTAL do NEGRO. Aqueles que a Globo, não ocasionalmente, reservava um lugar
na cozinha, na pia, no banheiro, na verdade eram figuras heroicas da construção
cultural negra brasileira do século XX. Ruth de Souza, Milton Gonçalves, Léa Garcia
povoavam minha memória com personagens negros que jamais gostaria de viver na
vida real. Mas aquele era o trabalho
desses grandes artistas negros e negras, que apenas em situações muito
especiais conseguiram escapar ao estigma da cor a da condição subalterna, mesmo
quando viveram homens e mulheres fictícios.
Demorei muito tempo para entender a efetiva mensagem da Globo
para negros brasileiros: Voces não existem. E quando existem, vocês não tem importância.
Ao que me lembre, na minha condição de expectador durante 4 décadas, Milton Gonçalves (http://www.purepeople.com.br/noticia/milton-goncalves-chega-aos-80-anos-escalado-para-atuar-em-cinebiografia-de-pele_a13429/6) viveu na TV três personagens
humanos: um homem que queria voar, um psicólogo de classe média e um soldado de
alta patente no seriado recente “Força Tarefa”. Já assisti entrevista suas e
sei da sua visão critica sobre o racismo e sobre a condição dos trabalhadores negros
na indústria do entretenimento. O documentário “ A Negação do Brasil” de
Joelzito Araújo (2001, https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Nega%C3%A7%C3%A3o_do_Brasil)
(http://www.4shared.com/rar/F_wQKpiXba/A_Negao_do_Brasil_-_O_Negro_na.html)
nos fornece um panorama histórico bem amplo do problema, embora recorra a uma retórica
freyriana ao fechar com uma fala tosca e desconstrutiva de Nelson Xavier no
final.
TEXTO EM ELABORAÇÃO.
Translated by José Silva
Television,
racism against blacks and, an insight on soap operas
Globo TV is
racist even when it tries hard not to.
What is it
that Globo wants us to believe with its soap operas featuring an all white
“society”? All my friends know I love
watching soap opera, nevertheless, for years now teaching in the evening
classes, it makes it harder for me keep track of the episodes, still whenever
there´s a free Saturday night, I make sure I catch up on them. Psychological
considerations dismissed, don´t ask me why. I dare to say that soap operas came
to be like my present day comparison of the storytelling that my parents used to
mesmerize us with, when my siblings and I were kids in Minas Gerais, when there
was no TV in the house. In my teens I soon learned to watch the shows from an
afro Brazilian stand point, and the soap operas were front and center in that
learning experience, a reality check
exercise handed down to me by my older sisters. By doing so, we quickly learned
to see the storyline, the plot, the playwright, the acting etc, for what it was
worth and for what it wasn´t. It took a while but, over the years I understood
the ways in which the soap operas tacitly brainwashed and manipulated us and
the moral codes that should prevail.
The
perception we have of Globo as a racist channel has been shaped by a growing
ability to observe and absorb the world through the eye of a collective social
individual, which is hard for them to assimilate, called Black movements.
In the
Black movements I started getting insights on how to identify recurring roles
for great outstanding black actors and actresses to play house servants
characters in general, like housekeepers, nannies, cleaners and so on. These
talented artists, I got to learn later on, had once joined forces and taken
part in a great aesthetic political project coined Black experimental theater.
The black
actors, male and female, Globo so often would place in the “kitchen”, doing
menial cleaning work, were in fact great iconic heroes in the construction of
the Brazilian black culture of the 20th century. Ruth de Souza,
Milton Gonçalves, Léa Garcia, inhabited my mind with black charactes that I
would dread being in the real life. But then, that was the job these great
black actors were supposed to do, and only in very specific and special
situation could they escape the stigma brought in by their skin color and the
subservient condition in society, even
when they were playing fictitious
characters.
It took me
a long time to understand the blunt and effective message Globo wanted to
convey to the afro Brazilians: You blacks don´t even exist, and when you do,
you don´t matter. Going back in time, as far as I remember, in my viewer
experience through four decades, Milton Gonçalves played three memorable characters
in TV: A man who wanted to fly, a middle class psychologist and a high ranked
army officer in the recent mini series “ Força Tarefa”. I have seen him in
interviews in which he expressed his grim views on racism and on the conditions
of afro Brazilians in the entertainment industry. The documentary “ A
negação do Brasil” by Joelzito Araújo
(2001) enlightens us on the issue of racism, and gives us a broad historical
background on the problem, despite failing to address the message when it uses
a Freyan rhetoric, ending with a scornful and counterintuitive piece voiced
over Nelson Xavier.
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