João Doria mantém o secretário Sturm. Insiste em tratar questões complexas da cidade como se fossem futilidades. Doria há de pagar um preço político bem alto, nós pagamos o preço real pela má administração.
fonte:https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/11/22/Andr%C3%A9-Sturm-o-novo-secret%C3%A1rio-de-Cultura-de-S%C3%A3o-Paulo-em-10-frases
A questão cultural na cidade de São Paulo, por várias e diferentes razões tem requerido dos gestores, uma percepção nova, por uma dinâmica cada dia mais desafiadora e fora dos padrões convencionais de gestão pública.
As secretarias de cultura, normalmente são acopladas à educação, por isso a galinha dos ovos dourados das prefeituras. Via de regra, ficam com as esposas dos prefeitos quando homens e maridos das prefeitas quando mulheres. Essa tradição do coronelismo é altamente estratégica e racional, pois visa acessar as verbas do FUNDEB, em muitas prefeituras é a principal fonte dos cofres municipais. Como a política é tida como forma de enriquecimento mais rápido, a verba do fundo de desenvolvimento da educação é o principal alvo da rapinagem.
Mas deixemos isso pra lá e vamos ao ponto chave: A Gestão Cultural da Cidade de São Paulo. Quando falamos em gestão cultural, estamos pensando em termos de um horizonte técnico-político-democrático no qual o funcionário público escolhido pelo prefeito para organizar a coisa pública da cultura, ao assumir a pasta, faz um levantamento dos equipamentos,, estuda o orçamento, localiza os principais problemas e demandas da cidade , forma uma bela equipe e começa a pensar como tornar o atendimento cultural mais abrangente, mais eficiente e aberto a participação de maior número possível de pessoas, que habitam ou frequentam a cidade.
Mas qual cidade? Uma hipotética do tamanho de uma cinema para brancos e ricos cinéfilos ou cinematograficamente letrados? Ou uma metrópole com milhões de habitantes?
Até o começo da década de 1980, a cultura na cidade de São Paulo era tratada como um tema de pouca importância política, mas, depois da passagem pela pasta de figuras com Gianfrancesco Guarnieri ( Governo Biônico de Mario Covas, 1981-1985) e Marilena Chauí ( Erundina prefeita eleita, 1989-1993) o panorama mudou bastante, não apenas porque ambos tentaram formular políticas calcadas em amplo debate com a sociedade e com a classe artística em geral, como também a classe composta de artistas profissionais, marginais, periféricos e diletantes construíram uma nova consciência do papel do estado no desenvolvimento das artes, entretenimento e cultura.
Antes dessa nova forma de entendimento havia muito bem instalada uma política de compadrio ou de gabinete, praticada pelos secretários governantes com prêmios, bolsas, apoios e patrocínios para os amigos do dono da pasta. Isso favorecia tradição cultural elitista e alimentava a visão tutelar.
Lembro-me que durante o fim do governo Janio Quadros conseguimos apoio da Secretaria municipal de Cultura para circulação nos teatros de bairro. Tínhamos um grupo de umas dez bandas capengas, sem infraestrutura nenhuma, utilizando espaços decadentes e sucateados da prefeitura.
Marilena Chauí, com base no modelo mexicano criou um sistema novo de Casas de Cultura, distribuindo equipamentos públicos para além dos rios, Pinheiros, Tamanduateí, Aricanduva e Tiete. Ela era autoritária , tal como é a nossa tradição, mas ainda assim teve que se submeter as muitas das e expectativas dos grupos culturais organizados. Naquele período havia grande movimentação não apenas áreas mais centrais como Lapa, pinheiros e Vila Madalena, como também nos extremos da cidade, como Pirituba, Santo Amaro, São Miguel, Penha, na zona leste havia um grupo onde uma das lideranças era o vídeo-maker João luis e o músico Edvaldo Santana.
Chauí também tinha um visão romântica de cultura popular, ela queria resgatar os circos e chegou mesmo a contratar uma série de lonas avulsas e fixa-las em diferentes pontos da cidade, eram geridos pela prefeitura em articulação com movimentos culturais regionais. Isso durou pouco, mas causou um reboliço na cidade. Havia um intensa movimentação de artistas como Ilo Kugili, um tal de Paulo Botas, que se dizia “amigo íntimo” do Milton nascimento, que veio com uma equipe do Paraná, isso causava muito ciúme entre nós, “paulista legítimos”. Mas também tivemos oportunidade de entrar em contato direto com produtores culturais periféricos e alternativos de diferentes pontos da cidade.
Entre as inovações de Sturm,
consta o fechamento da biblioteca Mario de Andrade no período noturno. Uma
tendência mundial, mediatizada pela ideia de que nos grandes centros urbanos,
cada vez mais há um contingente maior de pessoas, com hábitos noturno. Ou mesmo
que trabalhadores diurnos possam disfrutar das leituras em locais públicos
abertos a noite. Pasmem, pois essa medida foi tomada por um ex-editor, de uma
das empresas mais chiques da história editorial da cidade e do país. Quero dizer:
que inovação no meio privado, não combina necessariamente com boas medidas
destinadas aquilo que é público. Cada coisa é uma coisa. Isto é um inovador no
privado e outro retrogrado no público. Esquizo ou Naïf? Não. Excêntrico.
Charles Cosac Nesse sentido, Sturm é mais de uma passo atrás das vivencias dos produtores culturais da cidade, que nos últimos vinte anos conquistaram uma nova percepção do papel da gestão pública na construção de uma nova paisagem sócio cultural urbana no país.