PALAVRAS-CHAVE
Negros e negras, racismos, diversidade, blackface, antirracismo, cidadania, Brasil e Holanda.
Este breve ensaio visa confrontar a construção da alteridade
negra herdada dos colonialismos europeus, enfocando nas performances
dos corpos negros na cultura nacional. Esta reflexão estará alicerceada
em casos concretos da contemporaneidade. Tomamos como ponto de
partida a reflexão pontual de Salloma Salomão Jovino da Silva no debate
sobre o blackface em peça de teatro a ser encenada pelo Grupo Os
Fofos. O evento deu-se a 12 de Maio de 2015 no Instituto Itaú Cultural
de São Paulo, com a presença do grupo, assim como de
intelectuais/ativistas negrxs. Esta reflexão serviu de convite à colocação,
que faremos a seguir, de pontos comparativos com a prática do
blackfacing nos Países Baixos, dada a dimensão do fenômeno naquele
país e a saliência e eclosão da crítica antirracista ao mesmo nos recentes
anos. Esta reflexão faz-se ainda relevante sendo que há, entre estes
pontos geográficos distantes, Brasil e Países Baixos, histórias
entrelaçadas banhadas no oceano Atlântico, que nos junta-separa.
Ainda, este número dedicado a Stuart Hall nos serve de licença
para pensar o que o autor cunhou “regime de representação racializada”3
que também caracteriza o blackface, nesta ampla geografia da diáspora
africana. O ensaio fecha no território do teatro brasileiro. Conquanto
Hall tenha vivido e refletindo em uma condição e situação diferentes da
nossa, guardamos com ele o fato de sermos herdeiros de sociedades
coloniais e seus desdobramentos contemporâneos. No caso brasileiro
tem sido extremamente difícil ao seguimento negro fazer valor o da
diferença, uma vez que o discurso de identidade nacional funciona como
ordenador da realidade em que, um seguimento social ao se pronunciar
negro, dispara automática e imediatamente a rede discursivo-ideológica
da brasilidade unívoca. O mito da brasilidade tem sido tramado e
ressignificado desde o início do século XIX, mas adquiriu novos
contornos na atualidade devido às crescentes demandas sociais, políticas
e, sobretudo, culturais das populações indígenas e de origem africana.
O evento supracitado tomou forma de resposta corporativa do
Instituto Itaú Cultural de São Paulo à rejeição pública - por iniciativa de
Stephanie Ribeiro via as mídias sociais - ao blackface nesta peça,
primordialmente por negrxs brasileirxs. Segundo Salloma: em função
desse evento, a classe artística e intelectual branca paulista foi impelida a
participar dos debates sobre raça, racismo, etnia, identidade e sociedade
em rede no Brasil.
É importante lembrar que há uma história que precedeu e
informou este evento. Em 1969, após Wilson Simonal lançar a canção
“Samba do Crioulo Doido” de Sergio Porto ou Stanislaw Ponte Preta, no
Rio de Janeiro, um grupo de artistas ativistas negrxs lideradxs pelo
compositor Martinho da Vila, reagiu delicadamente. Elxs entenderem
que o conteúdo sofisticado da canção construía uma imagem negativa do
compositor e do sambista negro. Criaram um anti-evento chamado
“Nem todo crioulo é doido”, redigiram um manifesto público, no qual
refutaram toda forma de estereótipo racial antinegro, e abriram um
debate quase mudo sobre este aspecto silencioso e cruel da sociedade
brasileira.
Grosso modo, a canção joga com a projeção imagética
degradante de um compositor negro que, ao ser desafiado a compor um
samba com teor histórico sobre a política nacional, enlouquece e,
misturando tempos e personagens da História Oficial do Brasil, gera um
samba sem sentido. A canção parodiando um enredo de escola de samba
tornou-se bastante conhecida, mas o evento que o contestou não e,
desde então, quando se está diante de algo que parece mal feito, mal
organizado, ou de alguma ideia sem pé nem cabeça, a designação racista
“samba do crioulo doido” emerge naturalmente.
O fato de que a linguagem anda de mãos dadas com o racismo
sistêmico e o (re)produz, é notório. Este casamento deu-se tanto nas
sociedades coloniais assim como nas antigas metrópoles. Em ambas, as
línguas estão permeadas pelo medo do negro, que produz termos
lingüísticos associados à rejeição e ao escárnio. No artigo Ordem Branca,
Egbert Alejandro Martina e Patricia Schor (2016) analisam a associação
entre a cor preta e sujeira - a partir de argumento de Frantz Fanon - e,
por extensão, ao termo “estrangeirx” (ou “não-nativx”) nos Países
Baixos, sendo que x negrx é, invariavelmente, identificadx como
sujeito/objeto estranho ao corpo (branco i.e. limpo) da nação.
Nesta gama de termos racializados, é o que está associado ao
burlesco que escapa à qualificação de racista. O humor, uma eficaz
ferramenta de cristalização da hegemonia através da solidificação da
categoria do “normal” e portanto, aceitável ou passável, sugere, insiste,
impõe a ideologia do racismo antinegro em todos os quadrantes
geográficos decorridos da cultura colonial. Afinal o que é loucura endêmica
dxs negrxs (“doidxs”) mestiçxs, senão sinal mais potente da degeneração,
tal como pressupunham xs racialogistas? O desajuste social mental
associado à raça negra, e em particular à mulher negra, havia ingressado
em todos os tecidos da criação (Gonzaguinha ainda teria tematizado uma
“Negra maluca desfilando nua pelas ruas de Madureira”, nos anos 1970).
Os manicômios brasileiros do século XX, e xs médicxs/antropólogxs
que os criaram e dirigiram, tem muito a nos dizer sobre racismo e cultura
negra, por exemplo: Ulisses Pernambucano, Raimundo Nina Rodrigues,
Artur Ramos e finalmente René Ribeiro, o menos refinado e mais
francamente racista de todos.
Remotamente Roger Bastide (1994) analisou, com brevidade, os
altos índices de violência e suicídios entre os negros, assim como
conferiu ênfase à religiosidade e à produção cultural e deteve-se nos
estereótipos antinegros em São Paulo no segundo quartel do século XX.
Ao que parece, entendeu que a forte pressão social que xs negrxs
passaram a sofrer no pós-escravidão advinha, sobretudo, do fato novo.
O estatuto de cidadania formal e republicana estendida axs brancxs
pobres, estabeleceu um novo paradigma com o qual xs negrxs tiveram
que lidar. A parcela branca da população reagiu sistematicamente para
restabelecer sua condição social superior. Ou seja, o racismo antinegrono Brasil do século XX assumiu contornos tanto mais agressivos, quanto
mais complexos. Quais sejam: importação massiva de mão de obra
europeia, casada com discriminação negativa na contratação de negrxs e
outrxs trabalhadorxs nacionais; utilização de técnicas construtivas
urbanas que alijaram do mercado os trabalhadores negros altamente
especializados na área da construção civil; uso de formas seletivas
dissimuladas e em testes de hereditariedades eugênicas como formas de
aptidão para a escolarização pública dxs filhxs dxs trabalhadorxs urbanxs;
critérios eugênicos também aplicados na saúde mental e na seleção de
funcionários para serviços públicos. Em alguns casos, selecionadxs
tinham que comprovar que não pertenciam a ramos familiares
portadores de sinais de degeneração, degeneração racial evidentemente. São os
diários íntimos de Lima Barreto que nos informam que, nas vezes em
que esteve internado em manicômios, respondeu a questionários onde
figuravam esses quesitos de hereditariedade e degenerência.
Assim, naquele novo contexto, a disputa aberta por colocação no
mercado de trabalho, na espacialidade citadina e na hierarquia
institucional, conduziu as elites brancas e os medianos urbanos, à criação
de novas formas de exclusão, confirmadas pelos discursos e testemunhos
de exclusividade, apartação e violência. As categorias raciais de outrora
receberam sentidos inéditos.
O termo “negro-boçal” de outrora cedeu lugar à ideia de que xs
negrxs eram inaptos ao trabalho livre. A negra sensual e sexualizada do
passado imediato cedeu lugar àquele das mulheres loucas, agora locus da
efetivação da profilaxia do discurso médico-sanitário e médicopsiquiátrico. Os poetas e médicos-psiquiatras se especializaram emantropologia física e deslizaram rapidamente para os estudos naturalistas
de cultura. Essas práticas racializantes se sofisticaram e migraram para as
representações imagéticas e textuais, espetaculares e performáticas. Não
sem embates, o teatro urbano abriu um campo fértil para restabelecer
proeminência civilizatória da parcela branca da população.
O entretenimento urbano, contudo, foi um campo do trabalho
de baixo prestígio, que de imediato não interessou aos setores brancos
médios. Mas quando a invocação da tecnologia da radiofonia começou a
conferir visibilidade e permitir acúmulo social e financeiro axs negrxs nas
artes musicais, ameaçando o domínio racial, novas barreiras se
interpuseram axs artistas negrxs. Vislumbramos justamente a
documentação sonora da disputa desleal que se deu no âmbito social e
imaginário e que fez transformar o gênero, antes marginalizado e negro,
em símbolo da cultura brasileira. O Samba se tornou também local do
conflito e reafirmação da hegemonia cultural branca, como ensejou a
pesquisa de Joana Lopes Acuio.4 Talvez o gênero musical não se tivesse
tornado ícone da brasilidade, caso sua negritude estética fosse mantida.
Uma história exemplar vela por esse conflito desencadeado no bairro de
Vila Isabel na cidade do Rio de Janeiro, na qual se enfatiza a silhueta do
compositor carioca branco e médico não formado Noel Rosa, em
contraste com a omissão da figura do compositor negro Wilson Batista.
Voltando à negra maluca e ao Samba do Crioulo Doido, não se tem
conhecimento generalizado das inúmeras outras canções de
compositorxs negrxs feitas nos anos posteriores e que igualmente
contestam tal imagem-síntese do “crioulo doido” cunhada por Ponte
Preta. Ile Aye (1974) Bahia, por exemplo, “Somos criolo doido somo bem legal, temo cabelo duro, somo breque pau”. Ou ainda Jansem Rafael
(1970) Minas Gerais, em O caçador de cabeças: “Stanislaw que deus o
tenha, mas este é o samba do crioulo que realmente endoidou, ao tentar
entender a passada, a atual e futura conjuntura. E aderiu a um antigo
costume de seus ancestrais, caçar cabeças brilhantes...”. Essa canção
evoca um imaginário antropofágico associado axs negrxs e ironiza o
autor do “crioulo doido”. São desconstruções como essas que passaram
a disputar o imaginário brasileiro ante a persistência dos estereótipos
racistas antinegrxs. Em função do poder racial aprendemos que, a um só
tempo, negros e negras, devem estrategicamente esconder suas
capacidades cognitivas, se quiserem sobreviver ao racismo e adular
brancxs benevolentes em nome da conquista de espaço social próprio,
ou da manutenção da harmonia social.
A primeira publicação de “Reflexões sobre o racismo” de Jean
Paul Sartre no Brasil é justamente de dois anos antes, 1968. Sartre, em
diálogo crítico com Frantz Fanon e a poesia da Negritude inaugurada
por seu mentor Aimé Césaire, investe sobre a origem e natureza do
antissemitismo moderno e do racismo antinegro, e dedica especial
atenção ao papel das projeções de imagens estereotipadas na construção
do medo e da ojeriza antissemita e antinegra no imaginário da Europa
moderna, assim como à sua diferença fundamental.
Ora, no caso não há escapatória nem subterfúgios,
nem “passagem de linha” a que possa recorrer; um
judeu, branco entre os brancos, pode negar que seja
judeu, declarar-se homem entre os homens. O negro
não pode negar que seja negro, ou reclamar para si
esta abstrata humanidade incolor: ele é preto. Está
pois encurralado na autenticidade: insultado,avassalado, reergue-se apanha a palavra “preto” que
lhe atiraram qual uma pedra; reivindica-se como
negro perante o branco, na altivez.5
O pós-guerra colocou setores específicos da intelectualidade
ocidental frente-a-frente aos fenômenos do racismo e do antissemitismo.
Em simultâneo, neste mesmo pós-guerra, impérios europeus mantiveram
investimentos simbólicos e materiais na luta armada pela manutenção de
“seus” territórios coloniais. Esta cisão entre o verdadeiramente humano,
e o não-humano (nonbeing, segundo Frantz Fanon em Black skin, white
masks) se mantém na contemporaneidade, em ambas as margens do
Atlântico.
As figuras do negro e da negra construídas na forma do grotesco,
da caricatura, do ridículo, da estereotipia, da jocosidade, com estigmas
associados à raça/cor negras podem ser encontradas em um longo
espectro temporal da produção dramatúrgica, teatral, cinematográfica e
televisiva brasileira e mundial. Essa teatralidade racista e depreciativa
tem como fonte a experiência global do tráfico negreiro e a escravidão,
suas modulações criativas se desdobram efusivamente após o século
XVIII, até ontem e hoje. Segundo Elikia M´Bokolo (2003), na história
cultural da Inglaterra e França, há registros fragmentários da encenação
de Oroonoko, um príncipe africano. Trata-se de Oroonoko, or the Royal
Slave, peça teatral de autoria da britânica Apha Behn, composta na
segunda metade século XVII, e muito popular ao longo do século XVIII,
na qual atores brancos eram pintados de preto, para protagonizar a saga do
homem africano tentando escapar a escravidão (na colônia de hegemonia
britânica, e mais tarde holandesa, do Suriname). Não é possível afirmar
que esta prática seja a fonte precisa do fenômeno que se alargou Europa ocidental e posteriormente pode ser visualizado em diferentes
espaços da dominação colonial, inclusive, nos EUA e Brasil. Não
queremos localizar uma matriz unívoca para um fenômeno racista global,
mas é importante considerar que um dos aspectos recorrentes e
estruturais da dominação colonial e pós-colonial, tem sido a inserção de
conteúdos desumanizadores na representação das populações
subsumidas.
Stuart Hall (1997) elucida que tais estereótipos reduzem x negrx
ao que a hegemonia branca considerava sua essência, um sujeito
determinado pela Natureza, desprovido de Cultura. Assim surgem tipos
ritualizados dx negrx a partir de sua degradação, idealização,
sentimentalização ou infantilização. A cada tipo corresponde um leque
de características daquelx que deve – porque é perigosx - e pode ser
escravizadx/subalternizadx– porque é “naturalmente” servil. O “corpo
racializado” serve de prova cabal daquela natureza animal (244). É em São
Paulo, onde o capitalismo brasileiro se mostrou mais inserido e global,
que xs negrxs sofreram também uma segunda diáspora com o tráfico
interno de escravizadxs e ainda um terceiro deslocamento interno, com
fluxo reduzido, não cessou desde a década de 1940. Aqui onde o poder,
a renda e o prestígio mostram sinais de exuberância, pompa e gala, que
os contrastes sociais assumem imagens e tonalidades de dramaticidade,
revolta calada e o negro drama. O grupo de música negra Racionais define
o negro drama (2002): “Eu visto preto. Por dentro e por fora. Guerreiro,
Poeta entre o tempo e a memória. Ora, Nessa história, Vejo o dólar. E
vários quilates. Falo pro mano. Que não morra, e também não mate”.
Percepção das desigualdades e constante frustração mediante a
concentração de poder, prestígio, mando e recursos materiais
prioritariamente entre xs brancxs de elite, tem produzido na juventude
negra um outro tipo de atitude que não apenas conformismo e medo. A
cultura artística tem sido um campo explorado pelxs ativistas negrxs em
São Paulo desde o século XIX. Por volta de 1870, o ex-escravizado Luiz
Gama mobilizava atores, músicos e declamadores negros, para realização
de performances públicas, cujo objetivo era sensibilizar a opinião pública
para a pauta da abolição da escravatura. Também a Frente Negra
Brasileira, organização política da década de 1930, lançou mão de saraus,
bailes e bandas musicais como forma de sociabilidade na organização da
luta contra o racismo em São Paulo.
Aqui se trata de uma outra sensibilidade para além da
organização política. Entender o lugar que as representações ocupam na
manutenção do racismo antinegro. Combater as formas negativas de
representação significa levar o embate antirracista para um campo onde
predominam as sutilezas e complexidades. Esse lugar marcado por
subjetividades e formas aparentemente inofensivas de discriminação, tem
sido explorado pela psicologia social do racismo, que nos informa sobre
o desdobramento do sofrimento psíquico em adoecimento mental e
físico.
Estas caricaturas e representações racializadas foram
grandemente difundidas no século XIX e, apesar de contestação
recorrente, persistiram de forma mais ou menos ostensiva até meados do
século XX. São notórias tais representações populares estereotipadas no
Reino Unido (Golliwog) e nos Estados Unidos (Sambo), porém elas também se encontram para além do espaço anglófono, como por
exemplo, na Alemanha (Sarotti-Mohr), e nos Países Baixos (Zwarte Piet).6
O Zwarte Piet (Pedro Preto) é comumente “encenado” por umx
brancx pintadx de preto, com forte batom vermelho nos lábios, uma
peruca de cabelos negros crespos, brincos “de mouro” e vestimenta de
um serviçal. Na época da emergência desta caricatura nos Países Baixos
(século XIX), a escravidão ainda não tinha sido abolida nas colônias
holandesas, e x “escravx domésticx” era um importante símbolo de
status no império. A figura do Zwarte Piet mudou desde então, de um
malvado punidor de crianças mal comportadas a um alegre entertainer,
amigo das crianças. No século XX esta figura foi recorrentemente
contestada por negrxs holandesxs, porém se manteve firme e forte, para
se tornar o elemento medular do folclore holandês até os nossos dias.
Como David Goldberg (2014) afirmou, uma das particularidades mais
salientes do racismo nos Países Baixos é que lá o mascote nacional é um
blackface.
Esta caricatura protagoniza a maior festa nacional. Ao lado e
além da tradicional festa natalina como a conhecemos no Brasil, nos
Países Baixos há outra festa correlata, na qual o ancião branco Sinterklaas
(São Nicolau) chega ao país após longa viagem de navio com partida na
Espanha, trazendo presentes para as crianças, que serão distribuídos por
seus “ajudantes negros”, os Zwarte Piet. Esta é a grande festa pela qual
as crianças holandesas aguardam o ano inteiro, ansiosamente. Ao atracar
nos portos das cidades holandesas, Sinterklaas desfila pelas cidades,
montado a cavalo, com seu séquito de centenas de Pedros Pretos, que o
acompanham a pé, alegres, atrapalhados, engraçados, dóceis e servis. Sinte Pedros permanecem em terra firme holandesa entre Novembro e
Dezembro, quando retornam à Espanha, após semanas nas quais o país
se empanturra com o ritual de racialização. Durante este período os
Pedros Pretos se encontram nas vitrines das lojas, nas escolas, em
programas diários de televisão, são tema de música, forma de doces e
chocolates, enfim, dominam o espaço público e adentram o espaço
privado – primordialmente o infantil, mas não só.
Apesar e, por causa de, já canonizado como folclore nacional, o
Zwarte Piet tornou-se o catalisador da militância antiracismo nos Países
Baixos nos últimos anos. Esta performance antinegra tem sido alvo de
sólida crítica e militância do ativismo antirracista – com amplo uso das
mídias sociais - que aponta para o silenciado passado escravocrata do
imperialismo holandês, e a continuidade de percepções e práticas racistas
na contemporaneidade holandesa.
No Brasil, onde representações caricaturais racializadas abundam,
das mais sutis às mais grotescas, um fenômeno correlato são os Blocos
“Nêga Maluca” – além de tema musical como abordamos acima, esta
representação ganha corpo também. Para além do Carnaval, a sátira da
pedinte negra está presente em programas televisivos, a exemplo de
quadros interpretados pelo ator Rodrigo Santana em Zorra Total. No
interior da normatividade hegemônica racializada, tais formas de
representação quase nunca causam espanto, porém já não passam
incólumes.
Evidente que x negrx-forma, negrx folclore, negrx arcaicx da
cultura popular, sugere a existência de um manancial aparentemente
inerte de conteúdos simbólicos, que muitas vezes tem sido explorado pelo teatro nacional, o Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna pode
ser um exemplo clássico. Em função de um limite cognitivo gerado pelo
enraizado racismo que contamina os juízos (não apenas de brancxs),
algumxs estudiosxs do teatro creem firmemente que essx negrx-forma é
vazix, por isso pode ser preenchidx com os imaginários de brancura
supra-humana, pretensamente incolor e universal. Embora saibamos que
a cor e o sexo que subjaz à ideia de homem universal, seja masculina e
branca. Em tese, a forma máscara do teatro paulista recente, pintada, ou
ensejada dx negro-negra, não está diretamente ligada com os seres
humanos negros, os descendentes de africanxs, ou aos seres humanos de
pele escura no Brasil. Disso, nossos doutos professores de História do
Teatro e outras artes são primorosos defensores, e não conseguem
conceber teatro e dramaturgia que transversa a fonte grega. Nem sequer
ousariam se aproximar de uma “História mundial do teatro” de Margot
Berthold (2014), conquanto não perca a perspectiva evolucionista e
mantenha a espinha dorsal eurocêntrica, ao menos consegue extrapolar a
geografia ocidental.
A mesma fantasia de superioridade cultural, que é construção
ideológica, circula na Europa. A recente produção holandesa da obra
Shakespeareana “A Tempestade” (2014) pelo prestigioso grupo Het
Nationale Toneel (O Teatro Nacional), carrega a emblemática personagem
Caliban (“um escravo selvagem e deformado”)7
, encenada por um ator
branco em dreadlocks, corpo e cara pintados com talco branco,
reforçando ainda a falsa premissa da simetria entre o sujeito branco e o
negro, como se todas as máscaras tivessem o mesmo valor simbólico na
escala do H/humano. Assim apaga-se, em um só ato, a associação escravidão e raça negra, em voga ainda no início do século XVII, quando
Shakespeare escreveu a peça, e nos dias de hoje. Sistematicamente, estx
negrx-forma é preenchidx em um movimento pretensamente a-político e
pós-racial.
A estereotipia, dir-se-ia, não é tão importante quanto a morte
sistemática de jovens negrxs nas periferias dos grandes centros urbanos
onde a diáspora africana se encontra, porém a comparação é falsa. Não
há como dissociar a violência cognitiva da física. Os índices de
assassinatos deste contingente populacional no Brasil são assustadores.
Segundo o Mapa da Violência 2014, “do total de 56.337 homicídios
ocorridos no Brasil em 2012, 57,6% tiveram com vítimas jovens com
idade entre 15 a 29 anos. Destes, 93,3% eram homens e 77%, negros”8
.
Ao se produzir ou perpetuar a desumanização dx negrx brasileirx,
potencializa-se e se naturaliza o genocídio. A morte simbólica dxs negrxs
no teatro coincide com sua morte física e social pelas forças de segurança
pública e privada, efetivadas por milícias e grupos de extermínio.
Ainda no Brasil, um teatro sobre negrxs sem negrxs ou com
apenas um negrx, também se pode ver na recente produção de Antunes
Filho, tematizando Lima Barreto. Desde 1905, com publicação de “Os
negros” de Lima Barreto, se pressupõe uma escrita para corpos e mentes
negras em cena. Desde lá há uma escrita e uma cena teatral brasileira e
negra, invisibilizada por uma história-memória europeizante, de uma
Europa supostamente unicamente branca. No entanto, temos uma
criação dramatúrgica e teatral negra ao longo do século XX e ainda hoje
há uma produção vigorosa, embora de pouca proeminência midiática.
Pistas a seguir são os escritos sobre Thereza Santos, Eduardo Oliveira, Raimundo Souza Dantas, Guerreiro Ramos ou Abdias do
Nascimento. Recentemente pode-se também acessar o site da
Revista Menelik 2 Ato, ler os livros “(Em) Goma- dos pés a cabeça, os
quintais que sou” das Capulanas, Cia de Artes Negras. Ainda se pode
pesquisar temas correlatos na recém publicada revista do grupo teatral
negro Crespos, que seja, “Em Legítima Defesa”. Ainda, a saber as
produções teatrais protagonizadas por grupos como Coletivo Negro,
Quizumba, Cia dos Comuns, Bando de Teatro Olodum, entre outros.
Estes são indícios de que a brancura do teatro brasileiro está com os dias
contados. Entretanto a classe artística paulista, acomodada em sua
condição de exclusividade, como elite intelectual branca e brancocêntrica
estará disposta a fazer contato?
Quando a intelectualidade brasileira terá a coragem para
mergulhar verdadeiramente nesse campo tão delicado e, ao mesmo
tempo, tão violento, da construção cultural da nossa sociedade? Há que
se ter audácia para confrontar seus privilégios construídos histórica e
diariamente; há que se ter humildade e disposição para se abdicar deste
lugar referencial.
Refletindo sobre as máscaras, a dos Fofos em particular, em
termos teatrais, podemos definir tais representações negativas dxs negrxs
como tradição? Em sendo uma tradição, deve por isso ser
perpetuada? Enquanto escrevemos este ensaio, na outra margem
atlântica, o Comitê para a Eliminação de Discriminação Racial das
Nações Unidas, afirmou no âmbito de sua avaliação sobre os Países
Baixos, que a persistência do blackface holandês não se justifica
simplesmente por ser tradição, já que é uma caricatura racializada.
Ao se manter tais tradições e alimentarmos formas de
representação racializadas, estamos dispostos a admitir que,
efetivamente, somos sociedades racistas? Isso, ao contrário do que
sustentam, no caso brasileiro, Ali Kamel (2006) e Demétrio Magnolli
(2009), e seus adeptos? A mesma mitologia do não-racismo está
arraigada tanto na cultura popular como acadêmica holandesa. Esta
ignorância convicta e pretensa inocência são sintomáticas da hegemonia
branca. No Brasil, um discurso recorrente destinado a manter essa
dominação intacta, tende a acusar ativistas negrxs de estarem
constituindo um tribunal racial via mídias sociais. Esta evocação de uma
mobilização negra fora de controle atualiza um temor social surgido no
contexto da escravidão racial.9 A onda negra virá em forma de tribunal
racial?
Algumas dessas perguntas devem ser feitas à classe intelectual e
artística nacional, logicamente sem esquecer o quanto esta é, ela mesma,
hegemonicamente branca. Qual lugar o racismo antinegro ocupa na
produção cultural contemporânea? Até quando a classe artística e
intelectual dominante, por vezes não branca no tom de pele, mas na
forma de conceber arte e cultura e também o mundo, vai reagir de forma
infantilizada e se fechar sobre si mesma? Uma vez acuada no alto do seu
castelo transparente, vai gritar a plenos pulmões que sua liberdade
criativa está em risco, que a rua e a internet agora estão cheias de negonas
e negões raivosos querendo seu escalpo ou seu lugar na cena? Há aqui uma
reprodução daquela mesma fobia antinegra que transborda na linguagem,
emerge na máscara, e expulsa a bala da arma.
Ou será essa classe, na contramão da herança histórica, capaz de
abrir um debate franco sobre a ausência de negros e negras nos espaços
de criação, produção, veiculação e gestão de arte e cultura? Admitirá que
alguns dos seus pressupostos estéticos contém equívocos, distorções e
maniqueísmo raciais? Os gestores de cultura e a classe artística irão se
abrir para entender o fenômeno novo do ativismo negro em rede e seu
impacto sobre as formas de propagação das representações racistas
antinegras? Será que isso, como foi alegado, é “o mesmo que censura”,
ou seja, uma experiência política de controle de informação exercido por
um órgão do poder estatal, tal como foi nas Ditaduras? Quando setores
sociais tradicionalmente excluídos utilizam as formas de comunicação e
pressão que estão ao seu alcance para denunciar ou coibir algo “normal”,
porém moralmente condenável, estão efetivamente censurando?
Miriam Garcia (1993) no desvelador e inaugural “O negro no
teatro brasileiro”, nos informa como personagens negras foram entrando
(sem estar) na produção teatral brasileira, desde as obras de Joaquim
Manoel de Macedo e Martins Pena. Onde negrxs apenas eram sombras,
figuras sem nome de escravizadxs que sequer recebem uma rubrica, mas
tão somente menções vagas e desqualificadoras nas bocas de
personagens humanxs (quer dizer, brancxs).
Há, de um lado, uma história gloriosa e evolucionista do
teatro universal (ocidental) que é ensinada nas escolas e universidades
brasileiras. De outro lado, há uma narrativa que prima pela imagem da
cultura brasileira como lugar de ausências e incapacidades, nesse caso o
“Panorama do teatro brasileiro” de Sabato Magaldi (1962), é um
verdadeiro testemunho de complexo de inferioridade. Uma escritarebuscada e melancólica tipicamente presente em certas produções e
memórias daquele brasileiro branco, que alimenta a percepção de si
como sendo “europeu no exílio”.
Atualmente em São Paulo, até mesmo dramaturgxs negrxs
situadxs nesses lugares parecem impotentes, insuficientemente eficazes
na menção às criações dramatúrgicas negras e incorporação ao seu
repertório, ou para trazer à escolarização artística as reflexões poucas,
mas importantes sobre o tema, como por exemplo, Roger Bastide (nos
anos 1970) a ideia de que há um teatro negro popular no Brasil, que pode
se configurar nos dramas encenados nas festividades natalinas, como
Congados, por exemplo. Talvez, no futuro, algumxs professorxs
incorporem, ainda que tardiamente, ao menos um universalismo revisto
como de Margot Berthold.
Não causa espanto a reação emocionada de produtorxs culturais
brancxs normalmente favorecidxs por uma visão distorcida de mérito,
que produz e circula com apoio do mecenato público (leis de renúncia
fiscal) e privado, de institutos e fundações de corporações financeiras. A
normatividade social e política também se expressa no campo da
produção, circulação e gestão da cultura. Parece natural a invisibilidade
da população negra quando se trata de habilidades consideras exclusivas
das elites. Aqui então se encontra uma mudança significativa, um sinal de
novos tempos. Setores da juventude negra urbana cada vez mais
escolarizada e cosmopolita, proficiente em circuitos da cultura digital e
intrigada com a permanência do racismo, começam a cavoucar as
camadas duras do conformismo. De outro lado, o sistema simbólico de
enunciação identitária negra elaborado pelos movimentos negros nocampo da arte e da política, por vezes em ambos, nos transcursos do
século XX, começa a ser reconfigurado pelas demandas de cidadania de
um espectro muito mais amplo da sociedade brasileira, negra em sua
grande maioria. Nesse sentido, o desconforto da elite branca paulista é
apenas sintoma, prenuncio reativo e precoce, das mudanças estruturais
que serão demandas, mais adiante.
Até recentemente, o ativismo negro brasileiro fundamentou-se,
grosso modo, na relação direta no interior dos partidos políticos e
apostou na integração progressiva e gradual da população negra, por
meio das instituições, na sua assimilação nas estruturas estatais e da
escolarização. Funcionou como mediador entre os anseios das velhas e
novas elites políticas pós-ditadura e a população negra, que a cada ano e
eleição transcorrida percebe como o jogo da tradicional democracia se
serve da manutenção racial da exclusividade e hegemonia das elites
brancas. Obviamente há alternância de prestígio, poder e mando, mas
aos descendestes de africanos as barreiras cedem um espaço aqui e logo
se erguem novas discriminações acolá. Justamente porque nesse caso ao
racismo antinegro, além de ser um desdobramento da cultural colonial e
escravista, fez por se tornar um dos pilares estruturais das desigualdades.
Parece que não há mágica capaz de fazer desaparecer o racismo
antinegro, sem mudar as formas basilares que constituem a ordem dessa
sociedade.
Por quase meio século xs democratas negrxs no intestino dos
grêmios políticos de orientação ideológica ambidestra, seguiram
carregando seus anseios integracionistas para dentro das instituiçõesfragilmente democráticas, até que uma mentalidade racista reemergiu de
forma desavergonhada e ameaçadora.
Cremos, contudo, estarmos agora diante do que Clovis Moura
(1989) em “Sociologia do negro brasileiro”, designou “dinâmica
sociopolítica negra”, uma nova forma de articulação política e social que
oferece um desafio para o racismo antinegro e também coloca em
cheque as velhas formas do ativismo negro do século XX. Um ativismo
negro descentralizado e múltiplo, que aparentemente alimenta certo
descuido proposital para com as formas institucionalizadas de agir e
pensar, não estando atrelado às fundações, governos, ONGs ou Partidos
Políticos. Suas lideranças fazem ampla utilização das ferramentas digitais
e, em sua maioria, parecem ter formação escolar formal. Seus discursos
evidenciam acessos a diversas fontes enunciadoras de pertencimento,
seja religiosidades ou artes, sejam fontes oriundas dos EUA, África,
Europa, Salvador ou São Luis do Maranhão. Nos Países Baixos,
simultaneamente, e de maneira correlata – digital e face-a-face, inovadora
e fiel ao arquivo anticolonial e antirracista global, desobediente da
institucionalidade - a militância negra está instituindo novos modos de
afrontar a racialização da estereotipia antinegra, tirando máscaras,
desvendando a violência cognitiva e física, com altivez, não docilmente.
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Universidade Católica de São Paulo, 2000.
Notas
* Possui graduação (1997), Mestrado (2000) e Doutorado em História pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (2005) com estágio no Instituto de Ciências Sociais
da Universidade de Lisboa. Atualmente tem contrato de trabalho por tempo
indeterminado da Fundação Santo André e é Consultor da Secretaria de Educação do
Município de São Paulo. E-mail: sallomasallomao@gmail.com
** Possui graduação na Escola de Administração de Empresas de São Paulo - Fundação
Getúlio Vargas (1992), Mestrado no International Institute of Social Studies - Erasmus
University Rotterdam (1996) e é doutoranda no Departamento de Humanas - Utrecht
University, tendo sido pesquisadora associada ao Centro de Estudos Comparatistas da
Universidade de Lisboa (grupo Deslocalizar a Europa). Trabalhou como Encarregada
de Programas na África Lusófona, na Novib – Oxfam Netherlands. E-mail:
p.schor@uu.nl
1 FANON, F. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EDUFBA, 2008. p. 108.
2 WALCOTT, R. The problem of the Human: Black ontologies and "the coloniality of
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Black Critique: Joints and Fissures. Frankfurt e Nova Iorque: Campus Verlag, 2014. p.
93.
3 HALL, S. Representation: cultural representations and signifying practices. Londres,
1997. p. 245.
4 ACUIO, J. L. Wilson Batista: relações na cidade e jeitos de fazer samba. Dissertação
de Mestrado em História Social, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2012.
5 SARTRE, J. P. Reflexões sobre o racismo. São Paulo: Difusão Europeia do Livro,
1968. p. 108.
6 PIETERSE, J. N. White on black: images of Africa and blacks in western popular
culture. New Haven e Londres: Yale University Press, 1992.
7 SHAKESPEARE, W. The Tempest. Londres: Penguin Books, 1995. p. 23.
8 PUFF, J. 'Genocídio' de jovens negros é alvo de nova campanha da Anistia no Brasil.
BBC Brasil, 09/11/2014.
9 AZEVEDO, C. M. M. Onda Negra, Medo Branco: O Negro no Imaginário das
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Projeto História, São Paulo, n. 56, pp. 69-91, Mai.-Ago. 2016.