Texto síntese:
Grupo de Moçambique de São Benedito- Passos- Sudoeste de MG. Pesquisa de Salloma Salomão Jovino da Silva. Citações Aruanda Mundi- São Paulo- Brasil. 2007
Apresentado no evento Onnim da Cia de Artes Capulanas em 2011, Realizado na Casa Popular de Cultura de m Boy Miirm, Zona Sul da cidade de São Paulo - Congada e Moçambiques:
Corpos negros em performances.
Nas cidades do sudoeste de Minas Gerais resistem algumas das mais vigorosas e relativamente desconhecidas práticas culturais afro-brasileiras, os Congos e Moçambiques. Desde o final da década de 1970, acompanho alguns grupos e figuras como Tijolinho, Pascoal, Feliciano, guardiões dos cantos e ritmos ancestrais e dos rituais de coração de “Reis Congos”.
Passei a fotografar filmar, entrevistar componentes e lideranças dos grupos de Congos, Folias de Reis, Moçambiques, Escolas de Samba e Terreiros de Umbanda. Constituí um rico acervo videográfico e iconográfico que há muito desafia minha capacidade interpretativa.
É o Maracatu, assim como os Congos e Congadas, atualização da memória remota das cortes dos soberanos africanos e dos processos de cristianização da parte centro-ocidental da África lá os Congos e Moçambiques foram também registrados recentemente na pesquisa de mestrado do antropólogo Jorge Vasconcelos pela UNICAMP. Desde o final da década de 1970, ainda muito jovem eu já acompanhava com vivo interesse estas práticas culturais que trnasbordam musicalidade. Adimirador inebriado por cantigas e danças de figuras já desaparecidas como os já citados e também Castilho, Dona Tiana etc. Minha expectativa é que um dia no futuro estas cultura negras do sudestee ganhem algum reconhecimento e a visibilidade social e cultural que lhes é devida.
O termo Congo,Congado ou Congada é usado para designar uma gama variada de festas negras centradas na devoção de Santo Negros ou africanizados como é o caso de Nossa Senhora. Estes aspectos das culturas bantos nas musicalidades de Congos e Moçambiques de Passos Minas Gerais, sofrem com um duplo desafio contemporâneo ante a neo-folclorização ou a perpétua invisibilidade.
Jovem Moçambiqueiro na escadaria da igreja de Penha - Passos-2008-Salloma
Embora o cristianismo já fosse conhecido na Costa Oriental da na África desde o século três, a região do Congo tornou-se o principal foco de evangelização e exploração da costa ocidental desde o século XV. Alguns soberanos chegaram a enviar seus filhos para serem formados em Conventos de Portugal. Entre os convertidos ao catolicismo encontrava a Grande Rainha do Congo, batizada como Ana, mas era na verdade a herdeira do trono conhecida em toda costa ocidental como rainha Jinga ou Nzinga Mbande.
São Benedito é um dos Santos mais populares no Brasil entre os descendentes de africanos, sua imagem esta profundamente ligada a evangelização introdução do cristianismo da costa ocidental da África, parte de paises como Angola e Zaire atual. Em Minas Gerais era é o Santo de devoção das Irmandades negras e permaneceu como o guardião de muitas comunidades. Inúmeras Igrejas foram erguidas em sua homenagem em todo o país, assim como em Portugal desde o século XVII.
As Irmandades eram instituições permitidas pela igreja, tolerada pelas elites e utilizadas pelos negros. Na prática eram as únicas instituições abertas a participação de africanos e seus descendentes. Embora existissem desde o século XVII, adquirem novos significados nas Minas Gerais nos século XVIII e ampliam suas atuações nos século XIX, principalmente quando começam a surgir as primeiras ações abolicionistas, financiavam alforrias, acobertavam fugas e agilizavam um rede de solidariedade de informações que envolvia tanto escravizados e como também os libertos.
Família da Rainha do Congo- Passos MG. Casa próxima da Esquina da Rua Pará com a Maranhão , já descambando pros Canjeiranos, limite da Bela Vista, na geografia dos tambores
Os canto-danças negros das Gerais, herdeiros de fandangos e Folias, Embaixadas e folganças, memórias sonoras das noites que se perdem no tempo da diáspora e de muito antes dela.
Família da Rainha do Congo- Passos MG. Casa próxima da Esquina da Rua Pará com a Maranhão , já descambando pros Canjeiranos, limite da Bela Vista, na geografia dos tambores
Os canto-danças negros das Gerais, herdeiros de fandangos e Folias, Embaixadas e folganças, memórias sonoras das noites que se perdem no tempo da diáspora e de muito antes dela.
O mais absurdo é hoje, termos consciência que em Passos havia um dos poucos grupos de Moçambiques que era capaz de cantar em kimbundo, uma das línguas do tronco lingüístico bantu, ainda hoje falado em Angola. O Moçambique de seu Feliciano, que morava na rua boiadeiros, no Bairro da Penha, era o único que preservava esta característica, foi dele que ouvi termos como: indaca, kalunga, gunga, ngombe, ngoma, kimbanda e kalundu. Palavras bantas cujos significados fui buscar nos livros e no outro lado do mar.
Ao mesmo tempo as festas do calendário cristão faziam parte da imposição das religiosidades católicas, esta era um das estratégias de dominação que começam ainda antes do embarque nos navios negreiros. Os enterros, festas religiosas e eventos públicos, eram outros espaços de sociabilidade aproveitados pelos africanos e seus descendentes para fazer valer suas culturas e identidades.
Desde o final século XVII já se tem noticias da relação entre as irmandades e os grupos negros denominados Congos. Esta temática no Brasil é recorrente, inclusive em várias outras sociabilidades de origem africana, qual seja, cerimonial de coroação de reis e a rainhas, sob a devoção de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.
Atualmente concentrados na regiões sudeste centro-oeste os grupos de Congo e Moçambique transformaram-se em verdadeiros mantenedores das tradições afro-católicas brasileiras, na medida em que é na sua maioria composta por descendentes de africanos organizados em torno da devoção dos Santos Pretos. A entronização dos reis e rainhas do Congo que faz parte do calendário cultural da cidade é muito mais que simples folguedo como querem os folcloristas, trata-se de uma modalidade de catolicismo africanizado surgido no século XVI, onde se imbricam vários componentes religiosos de matriz africana.
Embora os instrumentos africanos, como por exemplo os balafons ou marimbas tenham desaparecidos em sua maioria destas manifestações culturais, foram entretanto mantidos os tambores e chocalhos designados gungas, especialmente na tradição do Moçambique em Minas Gerais, São Paulo e Goiás.
Balafons, marimbas e timbilas, são apenas alguns dos nomes recebidos por estes instrumentos no continente africano. Encontram-se espaços por toda costa ocidental e oriental desde a áfrica do sul até os limites da Etiópia.
Público na assistência da coroação de Reis Congos defronte a Igreja de São Benedito. Passos 2006. Salloma