Ola Parceiros Aláfia.
Divulgação e Produção da Banda
Quando vi esse nome pela primeira vez, pensei que se tratava
do Ilê Aláfia do Jabaquara.....
Fiquei feliz de vê-los no Clarió Redentor e de ouvi-los também. Tudo me pareceu tudo
muito mbakana , vibrante, festivo, denso e forte. Tudo pareceu afinado, afiado e cheio de reentrâncias
e subidas de ladeira com as mãos e ancas livres, mas com peso na cabeça.
Tradição para soltar o corpo mesmo sob tensão.
Eu embora já combalido pelo horário tarde, pela idade e uma
jornada semanal duríssima, tava curioso o bastante para ficar e beber. Sou culturalmente afeito a beber e comer os
temperos que estão chegando e ao mesmo tempo estão na beira da cena mais
comercial. Também não tenho purismo em
relação ao mercadão global que tritura
tudo e joga fora rápido, já foi tempo.
A parte que mais
gostei foram os gruves , assim na lingua dos colonizadores de cá. Letras muito
boas tambem.....Dez caras, melhor nove e
uma fêmea bem louca no centro , encarnada de Nzinga. Nem Denise Asumpção, nem
Aparecida, nenhuma das que estão já no telefone , ligand o para Paris ou em
contato com Nzambi. Ela que nem
conhecia, mas agora sei que é e torço para que sobreviva a pressão dos
homículos de plantão, com canção e poesia.
No mais sigo a guerrilha cultural que você travam. Um discurso ideológico bem étnico negro para uma banda bem mestiça.
Deve ser interessante o debate interno para levar essa marimba em público. Anti-racista convertido em arte. As vezes o discurso vai lá no céu, mas o som
não decola, por outras vezes é o contrário. Voces conseguiram um difícil
equilíbrio.
Divulgação e Produção da Banda
Fiquei pensando nas dificuldades das bandas negras e
periféricas das décadas anteriores, até mesmo o acesso a um instrumento de
qualidade, incidia sobre o fator estético e técnico. Uma mudança significativa ocorreu do ano
2000. pra cá. ao menos vejo isso no som
de voces e no Kimbuta , também no Ba- Boom e bem solto no Buia. Me afino com a
coisa de incorporação dos sopros em
grande estilo, uma coisa que pobreza material havia nos destituído desde o fim das gafieiras ( a miséria dos
negros aumentou enormemente) e que vinha de uma tradição desde os aerofones da
região dos lagos, dos Banda e Linda, por exemplo ( os europeus despirocaram e pensaram que fosse música concreta, antes do concretismo
existir, rsssss) .
Depois de algumas décadas fazendo e ouvindo música,
acordando e dormindo música e gostando de música feito por gente, torcendo por
gente negra feito eu, observei várias coisas acontecendo:
Durante toda cena dos anos 1980, só tinha um preto nas bandas
dos brancos, (baixista do Legião urbana, Negrete eu acho). Duas Bandas Negras
Obina e Cidade Negra (antes Lumiar).
Entretanto fora desse circuito tinham Itamar, Di Melo, e todos os remanescentes
dos anos 1970, Dafé, Cassiano, Tornado, Tim, e mais e mais e mais. Em 1984 estava em Rio Vermelho, Kabula e Curuzu olhando para
cena onde Muzenza, Lazzo e Edson Gomes despontavam.
Divulgação e Produção da Banda
Tem muita sonzeira que rola por ai..... Temos uma cultura
musical que continua sendo muito rica, embora o mercado de consumo de música continue
a ser extremamente seletivo e operado por deuses sem alma, cujos nomes nem
sabemos ao certo .
A música, o ambiente e a iluminação podem, ao menos por algum momento nos dar uma potência que
nem vem de nós. Usamos bem essa potência
ou não. Não é mágica, mas tem magia, pergunte aos mais velhos que eu,
especialmente Lumumba, TC, Crespo e vários que se mantiveram sãos, salvos e criativos. Há uma alegria que , se sincera
pode ser usada como combustível filosófico e espiritual, político e social. Um
bagulho que é uma espécie de espada de reversão, entendem?
Já aclimataram Kuti, parabéns. África teórica vocês cantam,
África telúrica eu diria, África sonora, África dos delírios, quem pode pegar África
com as mãos. Ou com o coração se captura Áfricas? No mais é arrogância o
estandarte da melhor África, em sendo a minha. Em litígio com quem? Resquício
da rinha? Não sei. As miragens e ilusões são também criações humanas. Inclusive precisamos delas.
Aventei pra mim hipóteses sobre o som que estarão fazendo
daqui a dez anos. O liquidificador é foda. Mas no meu íntimo eu os vejo
cozinhando raízes de inhame e lambendo os beiços. Quero estar aqui para sorver, beber, dançar
sem culpa e sem medo sob as células ancestres e fragmentos digitais dos ngomas contemporâneas de vocês.
Sobre Banda Linda veja: http://onpoint.wbur.org/2010/02/22/the-hum-of-life
Sobre Banda Linda veja: http://onpoint.wbur.org/2010/02/22/the-hum-of-life
Trombetas de madeira do
povo Banda-Linda, 1970s. (Foto:
Simha Arom)
Abs
Salloma
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