SILVA, Salloma Salomão Jovino da. Bio-caminho

salloma Salomão Jovino da Silva, "Salloma Salomão é um dos vencedores do CONCURSO NACIONAL DE DRAMATURGIA RUTH DE SOUZA, em São Paulo, 2004. por dez anos foi Professor da FSA-SP, Produtor Cultural, Músico, Dramaturgo, Ator e Historiador. Pesquisador financiado pela Capes e CNPQ, investigador vistante do Instituto de Ciências Socais da Universidade de Lisboa. Orientações Dra Maria Odila Leite da Silva, Dr José Machado Pais e Dra Antonieta Antonacci. Lançou trabalhos artísticos e de pesquisa sobre musicalidades e teatralidades negras na diáspora. Segue curioso pelo Brasil e mundo afora atrás do rastros da diáspora negra. #CORRENTE- LIBERTADORA: O QUILOMBO DA MEMÓRIA-VÍDEO- 1990- ADVP-FANTASMA. #AFRORIGEM-CD- 1995- CD-ARUANDA MUNDI. #OS SONS QUE VEM DAS RUAS- 1997- SELO NEGRO. #O DIA DAS TRIBOS-CD-1998-ARUANDA MUNDI. #UM MUNDO PRETO PAULISTANO- TCC-HISTÓRIA-PUC-SP 1997- ARUANDA MUNDI. #A POLIFONIA DO PROTESTO NEGRO- 2000-DISSERTAÇÃO DE MESTRADO- PUC-SP. #MEMÓRIAS SONORAS DA NOITE- CD - 2002 -ARUANDA MUNDI #AS MARIMBAS DE DEBRET- ICS-PT- 2003. #MEMÓRIAS SONORAS DA NOITE- TESE DE DOUTORADO- 2005- PUC-SP. #FACES DA TARDE DE UM MESMO SENTIMENTO- CD- 2008- ARUANDA SALLOMA 30 ANOS DE MUSICALIDADE E NEGRITUDE- DVD-2010- ARUANDA MUNDI. Elenco de Gota D'Água Preta 2019, Criador de Agosto na cidade murada.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Sobre identidade nacional, identidade negra.


Por Salloma Salomão FANON não era historiador, mas era Médico Psiquiatra. Sua obra fundamental foi "Pele negra, máscara branca", onde perscruta os efeitos psicossociais nocivos do racismo antinegro no contexto colonial no Caribe e na África. Sua obra é germinal nos estudos da psicologia social das relações raciais no mundo.

Retirado de Anna Raquel Rodrigues no Facebbok
"Para se falar uma história de identidade, é preciso um resgate profundos nos maiores confins, porque a história foi escrita porque quem tem costume de ocultar. É uma história plenamente aceita, como se tudo fosse terminar no branco, num mundo eurocêntrico que orbita em torno de si mesmo e classifica tudo que está na borda como exótico. Salloma insiste na necessidade de cavucar nas raízes do intelectual negro, das comunidades negras e seus levantes artísticos.
E num Brasil que se orgulha tanto de se auto-proclamar-se fruto de uma mistura genuína e positiva, o historiador questiona o papel do negro, que teve sua narrativa decepada por uma telegramaturgia elitista, por um mundo intelectual branco que colocou o negro na posição que lhe convinham. Mas a força dos fandangos, do lundu melodioso, da musicalidade não pode ser esquecida.. Que não se esqueça também do Teatro Experimental do Negro, criação de Abdias Nascimento, mas plenamente sustentado por uma trupe talentosa de operários e domésticas que buscaram na ancestralidade e na frustração da repressão racial uma força inigualável para interpretar"

Retirado do site original do arquivo. 
"Publicado em 3 de dez de 2014
O historiador e africanista Frantz Fanon entendia o racismo como modo socialmente gerado de ver o mundo e viver nele. Em sua curta mas impactante bibliografia, ele destrinchava as origens do colonialismo e o imenso impacto mental nas populações negras; e dizia que a luta deveria ser absoluta pela reconstrução de um novo mundo, e pelo resgate da ancestralidade das comunidades dizimadas.

O novo vídeo da série Tão Longe, Tão Perto, tem como convidado o africanista e historiador Salloma Salomão. No início, o entrevistado já reitera não acreditar numa noção de identidade brasileira, pelo menos, não como é apresentada, criação fabulosa de uma elite intelectual muito próxima das rodas de poder que massacram e reprimem as comunidades.

Para se falar uma história de identidade, é preciso um resgate profundos nos maiores confins, porque a história foi escrita porque quem tem costume de ocultar. É uma história plenamente aceita, como se tudo fosse terminar no branco, num mundo eurocêntrico que orbita em torno de si mesmo e classifica tudo que está na borda como exótico. Salloma insiste na necessidade de cavucar nas raízes do intelectual negro, das comunidades negras e seus levantes artísticos.

E num Brasil que se orgulha tanto de se auto-proclamar-se fruto de uma mistura genuína e positiva, o historiador questiona o papel do negro, que teve sua narrativa decepada por uma telegramaturgia elitista, por um mundo intelectual branco que colocou o negro na posição que lhe convinham. Mas a força dos fandangos, do lundu melodioso, da musicalidade não pode ser esquecida.. Que não se esqueça também do Teatro Experimental do Negro, criação de Abdias Nascimento, mas plenamente sustentado por uma trupe talentosa de operários e domésticas que buscaram na ancestralidade e na frustração da repressão racial uma força inigualável para interpretar. E que não se negue a força do trabalho de Salloma, que pesquisa a musicalidade africana e a resgata, rica e teimosa frente a um mercado audiofônico incrivelmente autocentrado.

“Quando nós nos revoltamos, não é por causa de uma cultura especial. Nós nos revoltamos simplesmente porque a maioria das vezes, não conseguimos mais respirar”, escreveu Frantz Fanon. A revolta só será completa quando o pulmão respirar tranquilo, e a história for reescrita pelas mãos que finalmente merecem escrevê-la."

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Aláfia e vigor da música negra.

Ola Parceiros Aláfia.





Divulgação e Produção da Banda


Quando vi esse nome pela primeira vez, pensei que se tratava do Ilê Aláfia do Jabaquara.....
Fiquei feliz de vê-los no Clarió Redentor  e de ouvi-los também. Tudo me pareceu tudo muito mbakana , vibrante, festivo, denso e forte.  Tudo pareceu afinado, afiado e cheio de reentrâncias e subidas de ladeira com as mãos e ancas livres, mas com peso na cabeça. Tradição para soltar o corpo mesmo sob tensão.
Eu embora já combalido pelo horário tarde, pela idade e uma jornada semanal duríssima, tava curioso o bastante para ficar e beber.  Sou culturalmente afeito a beber e comer os temperos que estão chegando e ao mesmo tempo estão na beira da cena mais comercial.  Também não tenho purismo em relação ao  mercadão global que tritura tudo e joga fora rápido, já foi tempo.    
 A parte que mais gostei foram os gruves , assim na lingua dos colonizadores de cá. Letras muito boas tambem.....Dez caras, melhor  nove e uma fêmea bem louca no centro , encarnada de Nzinga. Nem Denise Asumpção, nem Aparecida, nenhuma das que estão já no telefone , ligand o para Paris ou em contato com Nzambi.  Ela que nem conhecia, mas agora sei que é e torço para que sobreviva a pressão dos homículos de plantão, com canção e poesia.
No mais sigo a guerrilha cultural que você travam.  Um discurso ideológico  bem étnico negro para uma banda bem mestiça. Deve ser interessante o debate interno para levar essa marimba em público.    Anti-racista convertido em arte.  As vezes o discurso vai lá no céu, mas o som não decola, por outras vezes é o contrário. Voces conseguiram um difícil equilíbrio.




Divulgação e Produção da Banda



Fiquei pensando nas dificuldades das bandas negras e periféricas das décadas anteriores, até mesmo o acesso a um instrumento de qualidade, incidia sobre o fator estético e técnico.  Uma mudança significativa ocorreu do ano 2000. pra cá. ao menos  vejo isso no som de voces e no Kimbuta , também no Ba- Boom e bem solto no Buia. Me afino com a coisa de  incorporação dos sopros em grande estilo, uma coisa que pobreza material havia nos destituído  desde o fim das gafieiras ( a miséria dos negros aumentou enormemente) e que vinha de uma tradição desde os aerofones da região dos lagos, dos Banda e Linda, por exemplo ( os europeus despirocaram  e  pensaram que fosse música concreta, antes do concretismo existir, rsssss) .
Depois de algumas décadas fazendo e ouvindo música, acordando e dormindo música e gostando de música feito por gente, torcendo por gente negra feito eu, observei várias coisas acontecendo:
Durante toda cena dos anos 1980, só tinha um preto nas bandas dos brancos, (baixista do Legião urbana, Negrete eu acho). Duas Bandas Negras Obina e Cidade Negra (antes Lumiar).  Entretanto fora desse circuito tinham Itamar, Di Melo, e todos os remanescentes dos anos 1970, Dafé, Cassiano, Tornado, Tim, e mais e mais e mais.  Em 1984 estava em Rio Vermelho, Kabula  e Curuzu olhando para cena onde Muzenza, Lazzo e Edson Gomes despontavam.



Divulgação e Produção da Banda

Tem muita sonzeira que rola por ai..... Temos uma cultura musical que continua sendo muito rica, embora o mercado de consumo de música continue a ser extremamente seletivo e operado por deuses sem alma, cujos nomes nem sabemos ao certo .
A música, o ambiente e a iluminação podem, ao menos  por algum momento nos dar uma potência que nem vem de nós.  Usamos bem essa potência ou não. Não é mágica, mas tem magia, pergunte aos mais velhos que eu, especialmente Lumumba, TC, Crespo e vários que se mantiveram sãos, salvos e criativos.  Há uma alegria que , se sincera pode ser usada como combustível filosófico e espiritual, político e social. Um bagulho que é uma espécie de espada de reversão, entendem?
Já aclimataram Kuti, parabéns. África teórica vocês cantam, África telúrica eu diria, África sonora, África dos delírios, quem pode pegar África com as mãos. Ou com o coração se captura Áfricas? No mais é arrogância o estandarte da melhor África, em sendo a minha. Em litígio com quem? Resquício da rinha? Não sei. As miragens e ilusões são também criações humanas. Inclusive precisamos delas.
    
Aventei pra mim hipóteses sobre o som que estarão fazendo daqui a dez anos. O liquidificador é foda. Mas no meu íntimo eu os vejo cozinhando raízes de inhame e lambendo os beiços.  Quero estar aqui para sorver, beber, dançar sem culpa e sem medo sob as células ancestres e fragmentos digitais dos ngomas contemporâneas de vocês.
Sobre Banda Linda veja: http://onpoint.wbur.org/2010/02/22/the-hum-of-life
Trombetas de madeira do povo Banda-Linda, 1970s. (Foto: Simha Arom)

  
Abs
Salloma   



sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Luz Negra. Um musical da Cia Pessoal do Faroeste.



Luz Negra. Um musical da Cia do faroeste.

Há um debate pouco audível, mas muito frutífero sobre Negritude e Teatro, Dramaturgia Negra, Produção e Formação Cultural em São Paulo. Sabemos que há presença negra na produção teatral e não é de agora, assim como não é de hoje sua invisibilidade. Spix e Martius com algum espanto, dele e nossos, descrevem atores, músicos e técnicos negros de teatro em São Paulo, na primeira metade do século XIX, por exemplo. Não sabemos se todos eram libertos.  
Sabemos que somente corpos negros em cena não gera necessariamente teatro negro, é necessário intencionalidade e consciência, vivência e identidade, mas, sobretudo Cultura e protagonismo. Desde Edson Carneiro aprendemos isso.  Não há cultura negra sem princípios civilizatórios africanos. A África é grande né? Podemos pensar sistemas culturais localizáveis na geografia com continuidades contemporâneas, sem necessariamente acatar limites de Impérios ou estados nacionais?  
Assim como também não haveria teatro moderno se não fosse a expansão do ocidente, com tudo que isso significa. Para nós, tráfico, escravidão e racismo. Para a Opera e Aída. Gilroy propõe dividir com eles esse ônus sob o termo Modernidade Negra. Será que em partes iguais?

 By Salloma

A pergunta impertinente é: Dramaturgia negra e teatro negro se faz apenas com a transposição da religiosidade, história ou da realidade negra para o texto e para o palco?
Estamos ainda tateando os corpos negros no texto e no palco, nos redescobrindo nas nossas próprias contradições, criatividades e invenções ao longo do tempo. Também em cena.  Cena que construímos a duras penas. Nessa caso nossas linguagens artísticas se fazem em duas vias, uma é o assalto e outra é a recusa.   Assalto da linguagem e recusa da forma. Estamos enfim, conhecendo e experimentando os discursos sonoros, imagéticos e estéticos de matrizes africanas, de intencionalidades negras e diaspóricas, algumas são mais recorrentes.  Me perdoem se utilizo em excesso os termos escolares, mas treinei muito pra fazer isso.

Ainda nos ressentimos da constatação de que Negros e Negras tem sido apropriados por artes e literaturas que a nós negam, que nos destitui de complexidade e nos reduz a estereótipos e caricaturas. Já estamos bem fartos. Mas ainda se vê negros repintados e peruquencos em escolas, filmes, tvs. Folclorização, caras pretas, nega do cabelo duro, pedro mico, já basta. Né.?
Paulo Faria é um dramaturgo da velha escola de teatro denso, político e com compromissos. É cuidadoso e chega bem devagar, sabe o risco. De outro lado, mesmo sendo poucos, estamos bem atentos com expropriação. Almodovar em um banner na sala de recepção pede volta da rua do Triunpho, dos tempos áureos. Tempos áureos para quem? Um sobrado no centro, um projeto de higienização no entorno. Crakeiros, mendigos, sem tetos, a arquitetura monumental do centro velho, tá tudo lá. Do andar de cima olhamos curiosos para a Sala São Paulo e todo seu sentido real e simbólico. Ali onde fica uns 30% do recurso da Secretaria do Estado da Cultura. Voce ficaria estarrecido em saber que quatro instituições mais ou menos públicas/privadas mordem 70 % do orçamento da cultura em São Paulo.

Nessa caso do Faroeste, a trama do musical transcorre nos anos 1930 na área central da cidade de São Paulo, os panos de fundo são a Frente Negra Brasileira ( FNB) , o Teatro Experimental do Negro ( TEN) e a cultura musical negra. Historicamente essa foi uma das décadas mais duras da vida social dos negros em São Paulo. As memórias coletadas pelo escrito Quilombola Luis  Silva Cuti, junto ao ativista José Correia Leite não nos deixa duvida sobre isso. Uma fantasia deliciosa de uma Rádio Negra em uma São Paulo alva até o osso. Algo que poderia ter sido se desde aqueles anos as concessões de rádio comerciais já não fossem privilégios da brancura.        

Elenco bacana, ótimos atores jovens, negros e brancos. Redundância falar do teatro no Brasil como lugar da celebração da brancura estética, do eurocentrismo doentio, da perspectiva burguesa, do formato predominante de palco italiano. Mano a música produzida a 8 mãos negras e nove vozes, timbres negros sobre uma fundo branco. O verossímil é abandonado para que uma Rádio Negra, com um ótimo programa entre no ar e no nosso imaginário.
Me chamou bastante a atenção a personagem de uma pianista negra massai em corpo masculino, dedilhando suavemente, deslizando suavemente entre notas e textos. Caramba uma gama tão fecunda de atores e músicos negros e negras, ainda tão mal absorvidos pela política cultural do país. Isso precisa mudar urgentemente.

Sem querer minimizar a qualidade geral do elenco, vou destacar Thais Dias. Confesso de público tinha medo, sofri antecipado que ela ficasse presa a personagem da "nossa antiga" do Movimento número 1, do Coletivo negro. Era algo muito forte. Mas o que vi foi um desabrochar de técnica vocal e texto fluído, um corpo forte e solto, de traços redondos e leves, flanando num espaço cênico módico. Cenário modesto, figurino cuidado e luz no ponto certo. Nada, nada em excesso. É estilo e não precariedade.
Os personagens Abdias, Zé Pretinho, Benedito, Rubinato, Zé Correa e Adan Smitih fazem tudo para não esbarrar em demasia nas três personas de fêmeas, nem obstruir Tinga, Flora e a esbranquiçada (quase rodrigueana) Vanda. Simultaneamente Leona (elegantemente sedutora) Jhovs, Thais Dias e Mel Lisboa.
É o segundo trabalho recente onde Luiz Gama surge como personagem vociferando poemas. O "bode negro" autoproclamado Orfeu de Carapinha.
Não somente por ser um musical as canções criam vários pontos altos da viagem, daquilo que poderia ter sido a história dos negros em São Paulo. Pensando nas canções e no clima, lembrei-me que Abdias ficou preso ali perto no Carandiru e viveu em uma pensão nas proximidades da praça princesa Isabel. Entende como é forte? Abdias, Carandiru e Isabel?

Paulo Faria confessa pouco depois da sessão que tem trechos do texto, que foram extraídos das falas dos formadores, inclusive a minha. Isso confirma uma estranha sensação minha durante a apresentação (por vezes pensava comigo, mas essa frase parece que foi eu quem disse, nem sei onde. Será? . Ele todo educado. Poderia ser uma forma bacana de incorporar a formação na construção de um saber e texto coletivo (individualizado). Mas se ele grafar isso nos documentos do grupo, deixará de ser simples expropriação e produção de invisibilidade intelectual para se transformar em estética pós- moderna de criação. Né?

Não sei como serão os próximos anos em termos de expansão e equidade do universo do entretenimento, do lazer e da cultura, mas sei que temos que nos preparar politicamente e tecnicamente cada vez melhor para construir isso com os agentes presentes na cena. Sob o risco de mais uma vez sermos incorporados como corpos e saberes, mas não como protagonistas de nossas próprias existências e criações estéticas, tecnológicas, filosóficas e materiais.
Parabens Pessoal Do Faroeste .

By Salloma


TERÇAS E QUARTAS 21H
LUZ NEGRA O NOSSO MAIS NOVO MUSICAL
PAGUE QUANTO PUDER
R. do Triunfo, 305 - metrô Luz
reservas: 3362-8883 - reservafaroeste@gmail.com

segunda-feira, 28 de julho de 2014

São Paulo 1990 – Guinada da Cultura Urbana.



1990 – Guinada da Cultura Urbana.

A música R.E.P. (Ritmo e Poesia) destruiu simultaneamente e por completo a nossa ilusão escolar e ingênua da existência de uma cultura universal e outra cultura nacional genuína que nos pertencia. Fez isso por meio de  jogo interpretativo que combinava contrastes simplificados. Essa forma bastante didática, nos mostrou poética e musicalmente unidades sociais conflitantes e separadas da sociedade paulistana e  revelou a existência de duas realidades sociais urbanas paralelas, mas bem distintas, centro e periferia, mansão e favela. 

Lembrando Edward Dubois, agora penso que as fronteiras nem sempre invisíveis entre estes dois mundos eram mantidas por um véu ideológico de suposta integração e involuntariamente alimentado pelos setores mais escolarizados das populações pobres, esse era meu caso. A Escola ( instituição)  teve e tem seu papel de atenuadora dos conflitos sociais, com a inserção  de conteúdos culturais aparentemente neutros e supostamente universais na nossa formação. 
Luis ( LF do DMN) (2000. By Marco Aurélio Olimpio)
   
A Música R.E.P. e o Movimento Hip-Hop alargaram nossa concepção de consciência social e nos ofereceram uma ideologia política, que para a juventude pobre urbana que não existia antes, ou ao menos jamais advinda de dentro. Essa ideologia pode ser definida como sustentada em Quatro Pês (na línguagem do HipHop é 4P). Poder Para o Povo Preto e  Paz. Essa ideologia combinava, em termos de discurso a denuncia do racismo e da exclusão social, a fixava uma filosofia baseada nas experiências de desemprego, alcoolismo, degradação moral e contrapunha imagens do  cotidiano dos pretos pobres e favelados e as das elites brancas. Localizava a chave sociológica da dominação, as relações de poder e sugeria o empoderamento contra a pobreza e racismo.
As culturas negras urbanas quase domesticadas pela indústria do entretenimento e pelo folclorismo nacionalista,  que haviam sido primeiramente reprimidas com forças policiais e depois encapsuladas com artifícios intelectuais e transformada em folclore renasciam sob ímpeto imprevisível. No formato de cultura popular urbana o REP emergiu do setor mais degradado da sociedade brasileira, as populações jovens urbanas sem trabalho e de baixa renda. Favelados e periféricos jovens negromestiços ergueram a voz para denunciaram a opressão social e juntaram fragmentos de identidades negras trabalhadas em vários tempos e geografias da diáspora para fomentar uma ideologia nova e potente, que ainda hoje produz sentido e frutos políticos e estéticos.  Dança e política, canção e ideologia, estética e sociabilidade fazem parte de um repertorio próprio da existência diaspórica que os intelectuais cartesianos tem dificuldade e, lidar.  
O termo Periferia foi transformado em plataforma identitária, quer dizer lugar físico e simbólico agregador de coletividades diversas. Antes disso periferia era útil somente as mídias, aos tecnocratas da habitação e aos explorados do mercado imobiliário urbano. Coletividades compostas prioritariamente de negromestiços, mas não só, também migrantes nordestinos e mineiros, homens e mulheres, encontram na retórica e poética do R.E.P (embora marcadamente misógino).


 Kleber ou KLJ do Racionais Mcs. (2000. By Marco Aurélio Olimpio)
 
Tratava-se de uma dialética nova e que rapidamente se aprimorou a partir de São Paulo. Embora surgido como forma de entretenimento urbano dos sem-lazer e pouco escolarizados, os protagonistas do R.E.P o transformaram em movimento social e forjaram a emergência de politicas públicas de culturas, que antes se enceravam nas áreas centrais da cidade ou nas margens internas dos Rios Pinheiros, Tamanduatei e Tiete.           
Que a Cultura Hip-Hop tenha influências estadunidenses em termos musicais é certo e correto, mas a ideologia 4P foi forjada pela leitura objetiva e pelas subjetividades das experiências de opressão e segregação sociocultural e política negromestiça especificamente brasileiras. O racismo antinegro no Brasil, embora inserido na dinâmica do racismo mundial tem seus fundamentos, cores e traços próprios.        
Em termos de prática cotidiana difundia formas simples de autopreservação com base na amizade e na configuração de pequenas células de autossuficiência e produção cultural autônomas.  O núcleo discursivo da poética REP recaia na acusação veemente do Estado pela  violência, ainda hoje corriqueira, cometidas pelas forças de segurança  e para isso pedia a Paz. Mas não a mesma Paz, paz de cemitério dos movimentos da classe média branca, que podem ser traduzidos como melhores armamentos para política, mais liberdade para matar e maior sofisticação do modelo repressivo.
Principalmente  evocava a compreensão da ordem social para localizar a fonte da opressão, se não pressupunha uma revolução armada pregava uma reversão  total da hierarquia.  Forjava simultaneamente a mensagem moral de autoestima e autopreservação que fez muito sentido para um setor urbano totalmente desassistido pelas politicas públicas e menosprezado pelas organizações políticas tradicionais, os partidos. Esse fenômeno surgiu por volta do início dos anos 1990 e durou até por volta de 2007, quando uma terceira geração de Repers surgiu na cena da produção musical.


 Antonio Pinto, Sulei Chan e Salloma (2000. By Marco Aurélio Olimpio)


Auto estima, isto é: Somos negros e pobres e esse sociedade pra nós é foda, se liga nisso mano se quiser continuar vivo.  
Trabalhando incialmente ao nível das letras e atitudes com um discurso textual, visual e corporal relativamente simples e fundamentado em contrastes binários, que dividia  o mundo em dois polos, centro e periferia, boys e do gueto, polícia e otário, mulher e homem, negros e brancos, racistas e manos. Além da música e da dança a cultura Hip Hop conseguiu infundir nos seus participantes, ao menos na periferia de São Paulo, profundo gosto pela leitura e escrita, pelas linguagens das imagens, constituir uma nova cena de discussão política e de reflexão sobre identidades étnica e etária.  Podemos atribuir também a cultura Hip Hop uma percepção positiva da Escola Pública, como um local de segurança, expressão cultural  e ascensão social.
Um divisor de águas desse processo pode ser identificado no Programa “Rapensando a  Educação” desenvolvido pela Secretaria Municipal de Educação entre 1990  e 1991, foi concebido como uma interlocução entre a escola pública e as comunidades periféricas e mediada pelos jovens portadores de cultura Hip Hop na cidade de São Paulo. Traduziu-se na realização de uma série de oficinas de criatividade realizadas na escolas municipais: Grafite, Musicalidade, Dança e em diversas outras linguagens. Ainda hoje há uma memória significativa dessas ações que circulam oralmente pela cidade.
Na prática simbolicamente registra o encontro de ativistas negros antirracistas da geração de 1970, sobretudo ligados ao MNU ( Movimento Negro Unificado) com os jovens Repers, grupos Racionais MCs e DMN, através deles se inicia uma das colaborações políticas e criativas  mais interessantes dos Movimentos Negros Brasileiros Contemporâneos. Essa articulação rende frutos ainda hoje e em alguns momentos chegou a ajudar a definir as eleições na cidade de São Paulo, embora não haja pesquisas sobre participação politica partidária e tendência de voto da juventude urbana.
Esta ideia de que seria possível sobreviver do fazer cultural, fora uma hipótese testada pela geração do Hip-Hop paulistana da década de 1990 em duas circunstâncias, no município de São Paulo e em Diadema, uma cidade industrial na área metropolitana. Apoiados pela Secretaria Municipal de Educação, quando pasta era comandada por Mario Sergio Cortela, esse comboio de Repers, Mcs, Grafiteiros e Dançarinos de Breack circulou pelas escolas da cidade de São Paulo e região metropolitana mobilizando alunos educadores e ativistas.
Essa inovação estabeleceu um diálogo pouco comum entre cultura escolar e a cultural jovem extra-escola, nromalete vista com grande preconceito pelos educadores formais. As escolas públicas tornaram-se espaço formativo ocupado por educadores não escolarizados ou com baixa escolaridades, mas portadores de uma mensagem a qual a escola pública ainda hoje é capaz de assimilar.  Com palestras e oficinas de Grafite, Discotecagem, Musicalidades e Escrita de letras. No mesmo período a prefeitura de Diadema instalou na cidade um centro cultural designado a “Casa do Hip-hop”. Aquele espaço concentrou pesquisas estéticas e estudos sobre a cultura Hip-Hop no Brasil e nos Estados Unidos. Foi nesse contexto que se iniciou o reconhecimento social e profissionalização dos educadores culturais periféricos.
  A ideia chocante e potente de que os jovens negros pobres são sobreviventes no gueto não é retórica é uma elaboração poética de uma realidade quase sem poesia alguma.     
Diante de uma pressão social sem precedentes a juventude urbana paulistana, normalmente acuada entre a cultura do consumo, a violência de estado, a semicidadania e a violência social, encontra entre os dejetos  do “lixo ocidental”, as flâmulas que podem ser ressignificadas  e transformadas em modos de ser e estar no mundo. É nessa chave interpretativa que se pode focalizar nos movimentos culturais  negroperiféricos.
 Luis LF (DMN) e Pivete (Pavilhão Nove) (Acervo pessoal dos artistas, autor não identificado)
Suas figuras mais proeminentes começam a se constituir como um tipo  novo de liderança social e política e por isso passaram  a serem cortejadas pelas empresas médias e grandes de comunicação, universidades, corporações e instituições estatais ligadas a educação, artes e culturas.  Prêmios, convênios, títulos, fomentos não são exatamente estratégias de esvaziamento do conflito político-cultural, mas funcionam como tal, diante da fragilidade da nossa crítica.
Uma tradição cultural no Brasil é o fato das linguagens artísticas, nas suas cinco modalidades (Música, Dança, Literatura, Artes Plásticas, Teatro e Cinema) serem cultivadas e exercidas hegemonicamente por pessoas e ou instituições advindas das classes altas, salvo as exceções já catalogadas.  Isto posto significa reconhecer o caráter racial dessa hegemonia. Os eurodescentes são detentores do poder em todas as esferas da vida social, embora o discurso de pertencimento nacional, cuja ênfase recaia sobre o caráter transcendental da raça e na valorização da mestiçagem cultural, como uma forma de distensão sociopolítica.
Nem mesmo as mudanças sociais e políticas recentes, como maior índice de escolarização dos setores sociais historicamente mais empobrecidos e alternância política e a emergência de novas elites regionais e nacional foram a capazes de modificar substancialmente a concentração de status e poder das elites de origens europeias.
O máximo de organização que as lideranças negras obtiveram redundou na formação de uma classe média negra urbana ruidosa, cujo discurso  e praticas é até vigorosa, mas ainda incapaz de construir a unidade necessária a mudança estrutural que racismo também estrutural reclama. Ou seja sem mudar as regras do poder racial no qual o brancos figuram no topo da pirâmide. Em outras palavras não tem sido possível transformar o poder cultural e simbólico em poder político.
Tem sido o desafio e paradoxo dos movimentos negros brasileiros que obtém lugares menores nas estruturas politicas, porem não conseguem atingir o objetivo enunciado ainda nos anos 1930, que é construir um movimento unitário negro de âmbito nacional ou internacional (já que o racismo antinegro tem dimensão mundial). A fragmentação política tem sido o desafio mais recorrente e o mais o trágico dilema  da luta negra no país, algo constatado já na década de 1940, por exemplo, por um intelectual e ativista como Guerreiro Ramos.                 
Uma pequena minoria  dos intelectuais emergentes transforma-se tradutores e  mediadores dos códigos identitários contraditórios e difusos das periferias e da população negras, mas efetivamente seguem isolados nos pequenos grupos e onde são publicamente cultuados como figuras carismáticas e supra-humanas. Nos bastidores apresentam-se autoritários, mesquinhos e distanciados da massa humana que os revência. Cortejam figuras e instituições detentoras de recursos financeiros ou materiais capazes de promover seus feitos, seus bordões e sua imagem. Alimentam assim as relação paternalista como padrão de tratamento entre setores subalternos e as elites.
Embora parte do discurso recorra a figuras da revolta, levante e ruptura, na prática o que se vê é continuidade ou mudanças superficiais nos padrões de dominação social racializadas. Não obstante um campo de trabalho novo se configura nas periferias paulistanas. Os arteducadores são jovens de sexo masculino em sua maioria, muitos com escolarização de nível superior obtido na rede de ensino privado que muito prosperou na regiões pobres para explorar a massa de sem-faculdades.
Detentores de técnicas artísticas e conhecimentos práticos em música, dança, literatura, fotografia e  cinema digital esses educadores receberam um tratamento diferenciado do Estado, por meio de uma política pública elaborada às pressas, em meados dos  anos  2006,  para responder a pressão da opinião pública, quando ficou evidentes os massacres contra a juventude urbana cometidas como forma de retaliação, pelas forças policiais nos episódios conhecidos como “ataques do PCC).
Os trabalhadores artístico-culturais representam uma nova figura no cenário das periferias onde predominavam o desemprego estrutural, ou o trabalho informal, o bico.  Outra presença nas periferias é trabalho semiformal nas empresas terceirizadas e Ongs voltadas ao atendimento social, que completam os serviço público em forma de convênios. As creches em sua maioria são resultados desse tipo de convenio, o que revela a omissão sistemática do estado em relação a infância periférica.
As mães trabalhadoras recorrem aos parentes e amigos, quando não a cuidadoras informais que lotam suas casas e quintais de crianças, como forma de complemento da renda. Os que têm ímpeto empreendedor e algum recurso financeiro conseguem transformar essas práticas em pequenas creches e escolas, que atendem até 200 crianças em espaços onde não caberia nem a metade disso.
Os saraus ganharam força nessa época, mas suas raízes encontram-se na décadas de 1970, sobretudo nas atividades culturais das Cebs (Comunidades Eclesiais de Base), nos festivais e encontros culturais estudantis e nos eventos privados da elite paulistana. Entretanto na década de 2000 os saraus se constituíram em polos aglutinadores dos anseios de parte da juventude periféricas porque construíram uma ideologia e uma pratica social extremamente sofistica, que combinava produção artística-cultural e alternativa e modo de vida.
Considerações Finais
A modernidade é a maior invenção do mundo ocidental e ao mesmo tempo sua maior falácia.  As promessas e de equidade e liberdade jamais se cumpriram nem mesmo nas sociedades ocidentais mais opulentas.  Seu maior legado, ou seja, o humanismo, agora se transformou em lixo ou retórica. Lixo porque uma das caraterísticas reveladas na dinâmica da modernização mundializada é a capacidade de exploração estatal coorporativa ou pessoal de todo e qualquer tipo de recurso, até sua exaustão, deixando no caminho os desejos materiais e espirituais.  
O humanismo como forma de pensar a existência e diversidade humana e estender seus limites e para além da Europa branca e civilizada, na verdade se esgotou no quadrante norte. O Estado que se preconizava o árbitro  das iniquidades, efetivamente se tornou um senhor  arrogante, mas subalterno do capital e por pouco não foi totalmente esvaziado do seu poder normativo e agregador. O progresso técnico foi capturado irremediavelmente pelas corporações capitalista e os estado tornou seu refém.
Por fim o Humanismo foi atirado no lixo e por isso agora surge como estandarte nas mãos do excluídos  de todos os pontos do planeta. Nas periferias das periferias do mundo industrializado os mais subalternos e excluídos entre todos sujeitos sociais reivindicam pautas que foram catadas no lixo da modernidade. Aquilo que não foi capturado totalmente pelo mercado de consumo, qual seja, as linguagens artísticas, e educação escolar, o direito a diversidade, a cidadania,  o direito a existir nas cidades, agora figuram nas bocas dos sem coletes, sem empregos, sem casa, sem cultura e também dos portadores de estatutos rebaixados de cidadania ou de hipocidadãos.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Mestiçagem, branquitude e racismo anti-negro no Brasil-Uma cena do cotidiano





Cena do Cotidiano:
Fazendo compras no domingo de manhã, eu e um senhor magro e gentil, branco e pele tostada pelo sol. Nos esbarramos entre as prateleiras. Ambos na gôndola de laticínios, ele pegou um produto e me pediu para ler o texto da parte de ingredientes para ele. Queria saber se tinha sal. Pensei comigo, deve ser diabético como eu e deve vir daí sua dificuldade. Li o rótulo e ele com um sorriso leve e um tanto envergonhado, primeiro olhou pros lados, depois pediu desculpas e meio sem graça falou bem baixo, que não sabia ler. Liguei a chave antropológica e perguntei porque não aprendeu. Já um pouco a vontade disse que começou a trabalhar pequeno em olaria, ali no Potuverá ( Itapecerica, grande São Paulo, Brasil), a escola era longe e que os pais não acharam que era importante frequentá-la. Depois de adulto passou a ter vergonha de demonstrar para todos que não sabia ler, afinal aprendeu a se virar sozinho. Memorizava a cor dos ônibus, das notas de dinheiro, e mais tarde aprendeu com uma irmã a assinar o nome e fazer contas básicas. Agora que trabalha como pedreiro e, anda sempre com uma calculadora no bolso, principalmente para usar quando vai medir e contratar o serviço. Faz suas anotações precárias e ao chegar em casa pede ajuda de algum filho, para fazer os cálculos mais complexos e redigir os orçamentos, me disse. Cada um pegou seu produto e em seguida rapidamente nos despedimos. Por algum tempo não pude deixar de me lembrar daquele rosto magro e pensar em várias coisas: sobre relações humanas; sobre educação compulsória atual no país; sobre a permanência das desigualdades de acesso a escolarização básicas das classes baixas atualmente no Brasil, sobre idéias e interpretações sociológicas que temos sobre as condições de vida dos brancos pobres, em contraste com as dos negros tal qual; etc. Nós pesquisadores negros e negras poderíamos também estudar melhor as formas de perpetuação do poder , prestígio e mando das elites brancas? Imagine que conseguíssemos acompanhar por aos menos 20 aos as organizações patronais como a FIESP, ou acadêmicas, como a USP, por exemplo?. Creio Ninguém precisa me avisar das especificidades do racismo antinegro no Brasil e das nuances de degradação a depender do tom da pele negra e índia. Mas também creio também que, do ponto de vista da reflexão política, antropológica e histórica, a esta altura, já não é mais possível pensar e grafar “brancos” como categoria homogênea.




Óbvio que a reflexão pode descambar pro lado pessoal, afinal minha mulher é branca, etc. Tem mais de uns trinta anos que os movimentos negros elaboraram uma poderosa rede discursiva sobre mestiçagem e relações interétnicas, que ainda pauta muitas pesquisas. Reconheço portanto a importância da desconstrução da ideologia da mestiçagem. Mas será que atualmente podemos enfrentar esse debate a partir de outras referências, que não sejam Freyre, Fry, Viana, etc? Será que existe um caminho do meio entre estas duas tendências na leitura e interpretações sobre relações raciais no Brasil?     

Lia Vainer Schucman (veja: http://www.scielo.br/pdf/psoc/v26n1/10.pdf) está nos ajudando a compreender as práticas  racistas perpetradas por brancos brasileiros e mensurando o nível de consciência que eles tem sobre isso. Ficamos bastante tempo estudando, compreendendo e combatendo os efeitos sociais e psíquicos do racismo antinegro e sabemos como é delicado, tenso e difícil criar mecanismo de captura das atitudes de ojeriza racial antinegra no plano interpessoal, dado a natureza da nossa cultura oficial. Os dois planos básicos de expressão do racismo interpessoal, quais sejam, o público e o privado.  Por outro lado  está também nos mostrando o desafio maior que é no processo da luta antirarracista os brancos foram homogeneizados em um tipo branco ideal. Esse branco é efetiavemente é racista, racista orgânico ou ideológico. Mas e os brancos que não são, como podemos qualificá-los, reumanizá-los e extraí-los da massa branca do contraste e da denuncia?
Humanizar e qualificar os brancos brasileiros, talvez seja uma tarefa que o humanismo negro  tenha que se colocar, se quisermos continuar firmes e retos no projeto amplo de combate ao racismo. Ou aos racismos.