Impressões visuais e
outras leituras de mundo.
O Taxi atravessa a linha
vermelha e mergulha na Dutra e lá vem São Duque de Caxias, João do Meriti,
Mesquita. O taxista é divertido e politizado, tem uma energia boa quando fala,
é positivo, mas quando esplanou elogiosamente sobre os matadores da Baixada que
foram incorporados a paisagem humana como algo natural ou melhor como “mal
necessário contra a praga da bandidagem” , me decepcionou. O taxi avança, Meriti é familiar pela letras de samba e do
compositor Serginho Meriti, Duque de Caxias, tem Xerem, logo Zeca
Pagodinho é referência de uma cultura
musical cuja matriz no samba-de-roda da tias velhas ancetrais da Ciata, mas a
cidade é também local da ação de Tenorio Cavalcante e do próprio Duque...que
coisa haja, cultura autoritária.
Depois Belford Roxo: é revista Cruzeiro, fragmentos, lembranças
imagens registradas no início da adolescência fim da década de 1970, sei lá de onde emergem, registros dos linchamentos.
Violência e pobreza, as construção do mito das
“classes perigosas”. Geografia monótona das periferias, tal como a
escravidão homogeneizava, a miséria regula os sonhos. Como diriam os Manos:
Periferia é periferia”
O Hotel Mont Blanc, é dos
poucos prédios altos, quer ser francês, queriamos todos ser poliglotas. A cama
é boa, a comida é ótima, agora eu tomo
café toda manhã. A visão panorâmica do Mont Blanc revela um planalto entre dois
morros e poucas arvores. Uma estrada de ferro e outra asfáltica, os rios mortos,
as ruas estreitas, os caminhos condicionados por esses limites, que só podem
ser transpostos por viadutos, as ruas centrais são apinhadas de carro e gentes,
nas calçadas de meio metro de largura todos se oprimem.
Tendo em vista a
questão do pertecimento, podemos buscar
uma perspectiva de longa duração podemos apreender um pouco da trajetória
temporal dessa região para além dos linchamentos da década de 1970, dos grupos
de extermínio dos anos 80-90-2000. Flavio dos Santos Gomes tem se ocupado da
visão da escravidão para além do mundo senhorial, por isso trouxe para cena
historiográfica as revoltas escravas, e formação de quilombos no Rio de Janeiro e mostra como Nova Iguaçu
tinha um papel importantíssimo no trânsito de libertos e fugitivos durante todo
século XIX, Mostra também como os quilombolas (semi-urbanos) tinham
imprescindível na função na economia interna da capital do império, fornecendo
produtos manufaturados em tecidos rústicos, couro, animais domésticos e
alimenticios in-natura, como legumes e
hortaliças além de carvão, madeira, etc.
Imersão em NI
A- Contatos com Equipe
SEMED.
Os corredores da SEMED tem
trânsitos diversos, o cheiro de café aponta para cozinha e o refeitório. A
porta da cozinha dá para uma área livre, para onde correm os fumantes. Os
corredores são estreitos, as salas são pequenas. Há telhas de amianto na sala
do aquário onde ficam os Agentes Pedagógicos apinhados, sobre uma mesa olham,
usam os três computadores pensam e falam
baixo. Geralmente os
funcionários acolhem a equipe do IPF muito bem, solicitando, consultando,
pedindo opinião.
B- Acompanhamento da
Oficina de Uniforme na Escola Chaer com Eugênia e Equipe da Sec de Mobilização.
( programação)
Minha primeira
atividade consistiu em acompanhar a
atividade da Equipe de Mobilização, Cris, Ronaldo, Euclides e Eugênia (PIJ) na Oficina de Uniforme em NI,com a Escola na realização E.M. Chaer
K. kalaoum.
Uma bairro distante,
caraterisitcas semi-rurais. Lotes pequenos murados, casas baixas de alvenaria
em tijolos baiano, com telhas de amianto. Área com algum tom de verde verde,
animais nos pastos do no pé da Serra de
Madureira. Enquanto Eugênia fala eu
cochilo, estamos na estrada de Madureira, defronte um venda cujo prédio tem
características do anos 30, paramos, nos informamos, estamos perto. Chegamos
avistamos Cris, Ronaldo e o Designer de roupas que não gravei o nome,
acolhimento formal. No terreno ao lado tem um CIEPS que parece deserto e bem
cuidado.
Terreno de uns mil metros
quadrados, um 3000 metros de área construída, um tenda de lona-vinil, alguns
monitores fazem atividades artísticas com as crianças de ensino fundamental.
Uma pequena quadra, salas pequenas sem janelas com “KOBOGOS”, piso de cimento
queimado, 7 salas de aula, , 8 funcionários administrativos, uma sala de
leitura e computação.
Crianças dóceis,
negro-mestiços na sua maioria, se chegam
e fazem as atividade por mais ou menos 3 horas. Brincam entre si, falam
sobre a atividade que vão fazer, querem influenciar na escolha do uniforme.
Escolher os modelos, recortar, montar, pintar,mais de 20 crianças entre 8 e 14
anos. Dois deles muito altos, um negro e outro mestiço de índio são também os
mais velhos, em defasagem idade-série, porque? Interagiam muito bem com os
demais.
Alguns pais passam, olham,
param, outros chegam de bicicleta, enquanto
funcionários de uniforme laranja (com logomarca da prefeitura) fazem a
manutenção da pintura . A escolha do
uniforme escolar nada mais era do que um cardápio de camisetas e calças sobre
as quais podiam optar pela cor.
Eugênia demonstra bom
trânsito com a comunidade em geral, e com as crianças em particular. Cris,
Euclides e Ronaldo tocaram bem atividade, embora não tenha conseguido precisar
o objetivo pedagógico da ação. Os professores
e funcionários ficaram a margem de todo o evento.
C- Reunião Equipe do IPF no campo. (programação)
Nossas reuniões ( equipe
IPF) em campo se dão normalmente ao fim da tarde, duram em torno de uma hora e
meia. Geralmente Cida conduz a reflexão sobre o resultado das ações, dinâmica
que parece bem incorporada pelos outros membros. Entretanto Eugênia somente participou de uma reunião
especifica a convite da Cida, justamente par discutir os problemas do PIJ.
D- Reunião com Marli e
discussão sobre o curso de Formação UFF. ( Demanda Local)
Primeiro tema foi tratado
antes da chegada da Marly e dizia respeito ao desconforto da SEMED diante de
alguns aspectos do Programa Escola-Bairro, sobretudo o cronograma.
Sugestão da Cida, aceita
pela Marly de trazer o Arroyo e construir uma ação de formação em três etapas,
que leve em consideração a necessidade de uma discussão prévia com os
professores da rede, onde se problematize o sistema “híbrido” que está em
andamento na cidade e se aponte para definição de sistema ideal.
E- Acompanhamento das
atividades da SEMED nas escolas MURILO COSTA ( 22/05), THEREZINHA XAVIER
(23/05), ANA MARIA RAMALHO.( programação).
A apresentação do BE
seguiu um mesmo padrão: Vídeo do BE,
exposição oral Alceni, Cristina ou Silvia e uma segunda parte apenas os
professores. O público composto por professores, pais e traziam questões sobre
a obrigatoriedade de aceitação do BE, sobre o funcionamento do horário integral
e de adequação da estrutura da escola a nova realidade. Atividades envolvendo
uma média de 80 pessoas.
F- Reunião com equipe
SEMED para discussão e reformulação do Texto: programa Bairro-Escola. (
programação)
Forma realizadas duas
reuniões gerais e outras com um pequeno comitê, designado Eu e Marta para
redação final.
A primeira discussão, foi
conduzida pela Cida e contou com a participação de umas vinte pessoas entre
funcionários da SEMED e da Mobilização. A orientação inicial de ler e debater
parágrafo por parágrafo mostrou-se inadequada.
Na segunda parte o texto foi livro da capo sem ritornelo, todos já
estavam cansados e apáticos quando a
leitura findou. Uma comissão ficou de dar sequência de leitura e redaçaõ.
Chguei no ESMUTI no
horário combinado, infelizmente na reunião de trabalho, Paulo , Sandra, Marcelo
e Marta chegaram aos poucos e demasiado tarde. Em resumo eu e Marta em uma de
leitura posteriores prosseguimos na leitura redação do texto guia BE. Cheguei
aventar, silenciosamente, a hipótese de que não foi um ato fortuito, mas
destinado a esvaziar a ação, mas os motivos eu não saberia.
G- Reunião com equipe de
Aps para preparação da formação par metas do Milênio ( demanda local) e
Implantação das Escolas de
Horário Integral (
programação)
Uma primeira reunião com a
equipe de APS designada por Alceni para realizar a exposição concernente a
SEMED no evento. O grupo era formado por Ana Paula, Manuela, Eliezer e Jane,
resultou em uma divisão de tarefas para pesquisas sobre este tema e a
elaboração de um cronograma de ações.
H-Reunião com equipe de
Aps, Marta e Jussara para organizar o projeto de Incentivo á Leitura(
professores compradores).
A pauta girou em torno de
um Festival Literário como desdobramento de um evento designado “Bienal” e do empenho dos professores compradores de
livro. A constatação de que nenhuma ação foi disparada para fazer com que os
livros chegassem aos alunos e as escolas. Apontou-se para uma união de esforços
para que os livros sejam entregues aos educandos e professores, a criação de um
sistemática de formação voltada para a
questão da leitura/escrita.
I- Reunião com Cida e
Alceni e equipe para equalizar agendas, diluir tensões, orquestrar ações.
Pauta sobre conflitos e
divergências nem sempre reveladas da equipe e suas várias vertentes e a
influência disso sobre o trabalho de todos. Sobre os problemas de comunicação
das várias ações não comunicantes entre as equipes e demandas gerais colocadas
ao IPF.
Alceni tem se mostrado um
parceiro respeitoso, revelando postura, colaborativa e propositiva embora com
grandes dificuldades em imprimir uma dinâmica mais profissionalizada a SEMED.
Pré-Relatório Nova Iguaçu
Dias 19, 20, 21
Salomão Jovino da Silva
Escola de tempo
Integral
Conforme acertado em agenda com
Eliseu, viajei no Domingo dia 18. Heleno chegou no horário, hotel liguei para
Marta, combinei carona, dormi bem,
acordei cedo. Seguindo agenda
acompanhei as atividades da escola de tempo integral no EMEF Janir Clementino e Ana Maria Ramalho no período da Manha,
participara da Reunião da Metas do Milênio com Eugenia e discutir com Alseni a
programação preliminar do segundo semestre.
Etnografando BE ( Dia 19)
Marta foi pontual na carona,
chegou 7:30 em ponto. Chegamos na Escola a 8: 00. Janir Clementino é uma escola grande, se comparada ao Saher ou as demais escolas municipais que visitei em NI.
Uma quadra coberta, e gradeada, sem
muito espaço nas laterais. Um pátio interno de uns 200 m2, refeitório com
bancos e mesas de concreto, o prédio tem dois pavilhões, mas apenas o da
entrada tem dois pavimentos. Há dois banheiros na parte inferior, assim coma as
sala dos professores, coordenador de turno, administrativo e direção e 8 salas
de aula. No outro pavilhão mais 6 salas, que dão defronte a quadra. O barulho
gerado no pátio e na quadra causa evidente incômodo nas salas de aula,
atrapalhando sua rotina.
As informações que colhi sobre a
escola demonstram que tem 3 turnos, sendo que no período da e
noite funciona o EJA. Há uma biblioteca muito precária com 6 estantes e títulos
variados de livros infanto-juvenis, didáticos e
para-didáticos, além de um
conjunto de filmes diversos em vídeo, a funcionaria fez questão de atender bem
e de demonstra que os livros estavam catalogados e que há uma procura
espontânea e retorno dos livros em boas condições, algo a se levar em conta em
uma criação ou avaliação de projeto de valorização da leitura e escrita. Ao
lado da biblioteca há também uma sala de informática com equipamento do
Positivo, embora desligados. Uma pequena sala lado da de professores tem um
equipamento de som, qual seja, toca cds, mesa, amplificador, e duas caixas de
som, uma radio interna, que poderia ser utilizada para fazer oficinas de
comunicação com os alunos, uma vez que seja adaptada para esse fim,
retirando-se materais de limpeza, equipamento de pedreiro, mimeografo,
retro-projetor etc.
Quando eu e Marta chegamos, já estavam
no Local, Marly, um grupo de Aps e estagiários de Ensino Médio e Superior,
embora houvesse muitas crianças sentadas, pareciam não saber o que fazer com
elas, todos se entreolhavam como esperando algum comando. Por volta 8:20 chegou
um professor de educação física e mais alguns estagiários cm materiais como rede, bolas etc. As turmas ficaram sentada pelo pátio e
quadra ate que por volta das 9:00 chegaram outras pessoas cm camiseta do Bairro
escola. , supus que fossem da Séc de
Mobilização. Depois de uma performance de autoridade com culpa, castigo
e xingos, esporros, etc.
Marta negociou e assumiu o
comando assim que Marli deixou o local, rapidamente organizou algumas oficinas
e distribuiu tarefas, ao todo haviam 21 pessoas entre funcionários da SEMED,
estagiários, APs, além da Dulce que quando cheguei estava no local.As crianças
foram reunidas na quadra e Marta explicou de forma sucinta como seriam as
atividades. Quatro grupos ficaram na quadra e fazendo atividade com um jovem
que me parecem ter habilidade sobre os jogos que as crianças participavam
intensamente. Os outros três saíram acompanhados por estagiários e Aps, eu os
acompanhei.
Passamos pelo centro comercial do
bairro, lojas populares, sacolão, ônibus, tranporte alternativo, vans etc. Lojas de artigo de umbanda, secos e
molhados, tinha até inhame e cabaças secas.
Ao todo percorremos não mais do
que dez minutos, as crianças alvoroçadas mantiveram-se no caminho sob o
“comando” das estagiárias. No percurso uns guardas de trânsito auxiliaram nas
travessias. Atravessamos duas ruas e alcançamos um quadra, localizada atrás de
uma guarita da PM, no prédio pequeno com duas salas tem um brasão com duas
espingardas calibre 12, com o lema , Treme-terra.
Esse local conhecido como DPO,
consiste em um play-ground com equipamentos relativamente deteriorados em uma
área de areia e outra pavimentada, há também uma bem conservadas quadra de
esportes na qual os alunos foram divididos em dois grupos. Eliezer e Luana,
estagiários de mobilidade de ensino médio e superior acompanhavam as
atividades, desenvolvidas por dois professores de Ed Física do Viva Vôlei da
Sec. Municipal de Esportes. Embora o sol, já fosse um pouco forte, as crianças
respondiam bem aos exercícios de domínio de bola de vôlei.
Eliezer, o Ap que acompanhava o
grupo, muito gentilmente, me forneceu os horários oficiais das oficinas, ou
seja, a grade de atividades previstas. Mas Luana, diz que Ana Cristina previu
um dia que ela não sabe qual é para avaliação. Foram organizadas em reuniões que
aconteceram na EF Ana Maria Ramalho e na Casa do Menor são Miguel Arcanjo, onde
também foram apresentadas as equipes
umas as outras durante uma dinâmica organizada por Ana Cristina. Eliezer me diz
que, até onde sabe, não há uma data previa definida para avaliação das
atividades realizadas estas semana.
Voltamos a escola pela mesmas
vias, as crianças foram ao refeitório e tomaram leite achocolatado com
bolachas, enquanto outros. Em uma das
salas desocupadas (computadores) alguns alunos estavam participando de uma
oficina de desenho. Um grupo enorme de adolescentes estava no pátio sem
atividades, provavelmente aguardando o horário de entrada, o clima era mesmo do
período da manhã.
EMEF Ana Maria Ramalho
Cheguei pr voltadas 13:30 hs.
Todas as crianças e estagiários estavam no refeitório, Cristina com um
microfone ordenava a saída das crianças para atividades a serem realizadas nas
áreas externas da UE. A orientação era para que procurassem os locais com
sombra porque não havia parceiros fechados na região, ficaram alocados no
estacionamento, embaixo das arvores, a maioria estava com materiais escolares,
durante uns vinte minutos as Aps estagiários produziram os crachás de
identificação dos alunos, e um grupo de
esportistas, provavelmente da Sec. de Esportes próximas da quadra.
A escola é de alvenaria e tijolo
baiano, coberta de amianto, existem janelas de vidros e foi construída cm dois
pavimentos, no primeiro ficam as salas de aula, um pequeno pátio interno
descoberto e o setor administrativo, no inferior apenas o refeitório. Há vestígios de uma reforma recente e
superficial. Há um evidente descompasso entre a imagem que se quer projetar do
BE e aquilo que se esta conseguindo
implementar efetivamente.Em um dado momento chegou um grupo de pessoas com roupa
diferenciada, uma delas que portava um bloco tomou nota do que Ana Cristina
falou enquanto um outro fotografou algumas atividades. Me informaram que Alceni
procurou por mim e já havia deixado a unidade quando cheguei.
De volta a EMEF Janir
Me desloquei a pé para o Janir,
fiquei um pouco na sala dos professores com Marta e Silvia que a estava
atendendo os pais que queriam fazer adesão dos seus filhos a ETI do BE. Alceni apareceu ao celular, me cumprimentou,
mas não falou comigo e saiu às pressas porque tinha reunião na SEMED. Dulce ,
Marta e Marly conversavam no meio do pátio , Aps estavam distribuídos entre os
grupos, enquanto os Aps, Emanuela,
(lourinha ?) , Eliezer e outros também conversavam. Marta me deu carona, fui
embora.
Cheguei na SEMED, Alceni me pediu
para fazer uma apresentação escrita,
simples e direta para ser publicada me forma de folder sobre o BE. Pediu
urgência diante do fato de que queria que fosse entregue aos pais e comunidade
em geral nas próximas ações do BE, combinei de apresentar uma primeira versão
ao fim do dia ou na quarta, ele disponibilizaria seu computador e sua sala para
que pudesse desenvolver o texto, uma vez que ele não a estria na SEMED. Pedi
para que avisasse Claudia, como também Mario, que é com quem ele divide o
gabinete, eu chegaria as 8:00. Diante dessa demanda combinei com Eugenia de que
ela acompanhasse o BE na terça feira, para que pudéssemos, oportunamente,
avaliarmos dois primeiros dias do BE em Miguel Couto. Sai da SEMED por volta da
19 hs. Caminhei, noite, apesar da mídia os muros são baixos, nem todas as casas
são gradeadas e as pessoas me cumprimentam no trajeto, raramente há viaturas da
polícia. Hotel e cansaço, pedi comida, telefone casa, depois Eugenia, depois
Elizeu é uma briga desligar os dois, comida. Flauta-exercícios la vem a
tendinite, agora novela, morfeu
adeus.
Terça-feira 20
Cheguei na SEMED as 8:10, alguns
minutos depois Alseni . Ele me deu os parâmetros do texto e saiu, fiquei na
sala com Mário que foi acolhedor, dirigindo-se a mim ocasionalmente para fazer
observações sobre o cotidiano da SEMED. Marta e Eugenia, umas 11 horas
chegaram. Mario cedeu de computador e saiu, falávamos enquanto as duas pensavam
as oficinas do BE, de vez em quando em dava palpites, leitura de mundo dos
estagiários, das crianças, de nós, do mundo.
Trabalhei no texto até 18:00
Eugenia deu Carona, rotina noturna, hotel cansaço....
O texto ( recorta e cola)
Folder sobre o BE,
Objetivo:Apresentação
escrita simples e direta, publicada em forma de folder para ser entregue a comunidade.
Estrutura: Uma folha A4, sub-dividida
em 3 partes frente e 3 versos, impressa
frente e verso. Deve conter um texto corrido bem coerente e alguns boxes com
exemplos e fotografias coloridas.
Devemos demonstrar para toda comunidade :
1- O que é, quais os objetivos e como
funciona o horário integral.
2- Que os alunos irão aprender mais e
melhor.
3- Que tipo de atividades os alunos
participarão.
4- Que os alunos estarão em segurança e bem
alimentados
O Programa Bairro Escola é uma outra forma de
educar que está sendo implantada em Nova Iguaçu. É também o resultado concreto
das preocupações educacionais do governo, dos professores e educadores em
geral, mas principalmente, responde a um desejo dos pais.
A educação de
qualidade é um direito da criança e é algo que vai refletir não só na sua vida,
mas de toda sua família. O Bairro Escola é uma ação no presente, sendo feita de
olho no futuro. A escola que conhecemos deixa de ser o único espaço do trabalho
que os professores realizam. Assim o aprendizado dos nossos alunos não
acontecerá apenas na escola, como também em outros lugares do bairro, por isso
que o bairro passa a ser considerado uma escola, daí o nome Bairro Escola.
Uma das inovações que
o programa traz é o horário integral. Ao invés das crianças e adolescentes
ficarem somente no período da manhã ou da tarde na escola, elas serão atendidas
integralmente, ou seja, durante todo dia. A escola em tempo integral já estava
prevista na legislação brasileira, mas poucos municípios cumprem.
As aulas do período
complementar são chamadas de “oficinas” porque tem principalmente atividades
práticas. Ou seja, além daquelas aulas que os alunos e alunas normalmente têm
no horário regular, eles terão novas possibilidades de formação, com atividades
culturais e artísticas, de esporte e de aprendizagem, além de jogos,
brincadeiras. O programa terá também cuidados específicos com as refeições e
com a higiene pessoal. Aqueles alunos que apresentam problemas de aprendizagem
terão muito mais oportunidades para o seu desenvolvimento integral. Contudo,
apenas os alunos matriculados nas escolas municipais poderão participar,
mediante uma adesão dos pais, feita por escrito e assinada.
As escolas serão
readequadas e equipadas para uma grande ação pedagógica, mas também vão contar
com colaboração de parceiros existentes nas próprias comunidades, como
associações, clubes, igrejas, praças, entre outros serão utilizados para
realização das oficinas.
Os alunos serão
sempre acompanhados por agentes de trânsito, estagiários da prefeitura e
profissionais da educação durante o caminho até estes locais, durante todo o
período de duração dos cursos e oficinas. É uma experiência que já esta dando
certo, por exemplo, no bairro de Tinguá.
Reunião com Eugenia
Marcamos as 8:00 na saguão do
hotel para tomarmos café juntos e ler o material do metas do milênio e criar
alguma familiaridade com tema e situarmo-nos. Eugenia ligou manifestando
atraso. Tomamos café , conversamos seguimos para compromisso.
Reunião Metas do Milênio 21/06/2006
Coordenação Geral do Bairro
Escola
Horário: 10:00 da manhã
Local – Área central da cidade
Participantes: Edson, Luciano-
CGPBE; Salomão e Eugenia- IPF; Antonio –(Projeto BID) e Virginia
Secretaria da Saúde.
Edson inicia a reunião se
apresentando e sustentando que nenhuma das pessoas do Observatório da Cidade
esta presente por conta de uma agenda carregada de atividades fora de NI.
Contudo como tem acompanhado todas as ações e discussões desse grupo se sente a vontade para
conduzir reunião.r Faz uma explanação sucinta sobre o que vem a
ser as metas do Milênio ONU, sobre como nova Iguaçu se colocou no programa ao
lado de BH e as outras ciaddes escolhiads pela ONU e qual o impacto disso em
termos de ganho não âmbito do planejamento,
gestão e políticas públicas para
cidade de NI.
Enumera os Objetivos e Metas,
relaciona os parceiros das demais SEC MUNs e cobra o fato do IPF ter não apenas
abandonado o círculo de debates como também ter deixado de dar assessoria para que
SEMED conseguisse levantar seus indicadores para ultimo evento sobre esta
temática realizado na cidade. Certa tensão não, eu e Eugenia soba mira de
todos, Ednaldo nada diz.
Justifico a ausência do IPF e
assumo o compromisso de uma nova e
urgente abordagem sobretudo tendo em vista o plano municipal de educação, eles
concordam que tem tudo e ver. Ednaldo diz que ficou ausente por conta do sue
contrato de trabalho e que ele a Joana passarão a representar a SEMED nesse
fórum na ausência do Alseni.
Apresentam alguns dados de SEC do
estado da Educação e do INEP, questiono o fato de que estes dados tratam apenas
das crianças que estão ou estiveram ligado aos sistemas de ensino, deixando de
lado aquelas que jamais freqüentaram a REDE. Eugenia sustenta que também os
jovens desescolarizados ou acima de 15 anos não aparecem nessa pesquisa.
Luciano citando o IBGE de 2000
sustenta que este dava conta de 6.000 adolescentes nestas condições foram
constatados pelo referido censo.
Quanto ao atual encaminhamento de uma pesquisa
sobre e educação, uma alternativa encontrada foi a utilização da equipe de
combate aos vetores de (mosquitos da dengue), que farão um levantamento das
crianças em idade escolar e que se encontram fora da escola. Para que se
formule procedimentos voltados este publico específico.
Edson faz mais algumas
intervenções e Luciano fala do levantamento de dados que tem feito sobre e
Educação no Município de suas dificuldades analisar tais dados. Edson novamente
sugere que, eles esperam um apoio do IPF nesse campo, uma vez que é está uma
instituição de referencia em gestão educacional.
As reuniões são de quarta feira.
Encerra-se e simpaticamente vão nos subsidiar dos dados sobre a educação que
eles já coletaram, ficamos mais algum tempo, ate a próxima.
Eu e Eugenia almoçamos e
trocamos impressões.
As 14:00
reunião com Alseni.
Relato
verbal com base nas anotações
Relato da
Eugenia 22/06 via telefone sobre BE na terça.
O Instituto.
"Nem o frio distante de Lyon
nem o olhares frescos das cortesãs saciadas
nem a brisa imberbe durante a febre terçã
tem a voragem definitiva do arco em chamas que te alocará do chão."
Sanderval de Lancaster. (1356)
Como
de costume tomamos café no pátio. Assim eram todas as manhãs, a não ser
quando chovesse. De tudo a gente comia, queijos variados, frutas secas,
bolachas recheadas. Todos meio-nus no átrio sacro e no mais puro
silêncio. O barulho do sapato dele fazia um eco tão forte no corredor,
que dava a impressão de que mil homens, em trajes de guerra entrariam
por aquela porta. E se viessem, certamente eles entrariam armados. Mas
não, nunca, somente gente pura e casta entrava e saia daquele lugar. A
cruz de malta ficava lá, centro do jardim, uma velha senhora, guardiã
atemporal.
Desde
a adolescência nossa rotina s elaterou pouco. Para alguns de nós
permaneceu mesmo depois da desinternação. Acordamos, oramos, fazemos o
serviço de quarto, descemos para o salão e novamente oramos. Depois é que vamos para pátio esperá-lo. Nos últimos tempos começaram a deixar que troxessemos coisas de casa, as
vezes até incentivavam, eu trouxe um velho terço e uma guia de Oxalá. O
primeiro herdei de minha mãe e o segundo de meu irmão inciado na
Umbanda.
Certo
dia após a oração matinal nos autorizaram a vestir nossas roupas,
inclusive roupas étnicas. Uma outra vez, há quase dez anos ele, em
pessoa, nos surpreendeu ao dar uma aula sobre Legbará e Sumé. Imagine
só, ele sabia de tudo, conhecia muito bem alguns segredos, cantigas,
orações, sinais de buzios e risco no ar.
Na
maioria das vezes ele chegava calmo, normal, magro, quase franzino. Mas
era gigante quando emergia da penumbra do seu escritório. Primeiro
deixava que a luz projetasse uma sombra do tamanho da porta no corredor.
Parava um pouco, depois ingressava performático. Antigamente aquela me
parecia uma porta enorme, talvez a maior porta do mundo, menor apenas
que a porta da Igreja da Penha e por sua vez era menor, talvez um pouco
menor, que a famosa porta do céu. Que nunca vi, mas imaginava, quando
cria.
Quando
eu cheguei ao Instituto imaginava ele e deus, juntos conversando. Deus,
grandalhão e velho, branco e barbudo e ele com seu queixo fino, a cara
sem pelo, a pele lívida dos santos de madeira policromada e as mãos de
limpas de um intelectual, mais macias que couro de peixe sem escama.
Lá
estava ele, tranqüilo, branco, médio e educado. Falava com todos em
público, fazia questão de se dirigir a cada um pelo nome e sobrenome.
(Desgraçado, cínico, monstruoso).
Quando em vez escolhia alguém. Era sempre o mais cheiroso, alvo e limpo e cochichava. Ele
chegava bem perto e cochichava o apelido que ele mesmo nos deu. E por
vezes ria, mas ria comedido. Punha a mão no rosto para se esconder, mas
ria. Era então quando pronunciava nosso nome secreto, era nosso segredo,
ele brincava. Lembro-me que falava manso no pé da orelha e isso em mim
dava um tremendo arrepio, eu já não era mais um menino. (tarado sádico, excomungado).
O
reitor fazia uma prelação breve. Retirava dois ou três de nós para uma
oração mais longa em seu escritório, que ficava no terceiro andar do
prédio. E somente os escolhidos, o bem escolhidos, os escolhidos a dedo
podiam entrar em outra sala contigua ao seu escritório. Eu nunca fui lá.
Quem já foi nunca me contou nada.
Naquela
manhã chegou mais cedo que de costume, veio como pisando em plumas, não
fez barulho. Apenas eu notei, notei não, senti, senti seu peito que
ofegava, enquanto ele ficou um longo tempo nos observando por entre as
folhagens. Pensei. Qual seria o motivo? Cansaço, medo, angustia? Sei lá.
Era um homem encantador, previsível, meticuloso e tão estranho. Não
dizer sei se era seu sotaque do sul meio cantado, ou quem sabe os
resquícios de latim.
Ele
vinha vigoroso naquela manhã. Algo maneira diferente de andar, na roupa
tão bem passada, sempre escura, pesada. Parece que escondia alguma
coisa por detrás das palavras e da roupa. Como posso explicar isso? Na
maioria das vezes que o via e ouvia falar, sentia algo como ver um
filme, cujas legendas expressam coisas totalmente divergentes das
imagens, uma flagrante contradição entre gestos e expressões faciais dos
personagens e o enredo da história.
Mas o que isso quer dizer?
É
um estado da alma, como diria Lima Barreto, uma tecla sensível. Quando
ocorre somos levados a desconfiar da nossa própria capacidade de
tradução. Não sei se acontece com você, mas por vezes me vejo em
situações desse tipo. Isso é muito diferente de assincronia, delay ou
atraso, como as antigas transmissões de internet. Suas abordagens me davam esta sensação.
O desconforto que me causava, era muito maior, que assistir a uma técnica mal apurada. Por
vezes penso que sou eu quem desconectava temporariamente. Surgia em mim
uma espécie de desdém pelo tempo real da vida, um apego por fragmentos
de segundos. Por exemplo fixação em uma cena ou uma frase.
Era
tão repentino. Bum, uma imagem sem som, em slow. Depois voltava aos
poucos até reencontrar o prumo e o sentido . Outras vezes via que as
bocas se moviam, as línguas iam aos dentes, mas ficava um vácuo de
semibreve, entre mim e as coisas, as coisas e o mundo.
Isso
não importa, mas já que quer ouvir, vou contar mais. Ficavam e ainda
fico fora de mim. É apenas meu corpo solto no mundo. Tenho quase sempre
volume exato das coisas, mas não tenho as referências do som. O som é
uma coisa esquisita. Me imagino como alguém que ficou sem ouvir nada a
vida inteira e de repente, já quase idoso, pudesse ouvir. Ficaria louco?
A
questão não é o som e a imagem, é a imagem e som do mundo. Esquece é
muito delírio. Não vou contar mais, desculpe, vou retomar a tal
história.
Aquela
manhã ele parecia especialmente diferente. Não escondia os olhares como
alguém falsamente tímida, não media as palavras como um orador
profissional que era. Contudo falava diferente, dois tons mais alto,
rápido e estridente. Quero dizer, um tanto mais agudo. Seus trejeitos
não eram propriamente efeminados, mas menos contidos. Levava
constantemente a mão esquerda ao cabelo e parava. Mexia no lóbulo da
orelha carinhosamente, reflexivamente, olhava para nós, através de nós
ou para o nada.
Sentou-se
e repetiu a ladainha costumeira, monotônico e entediante. Estava como
de praxe, no trono, ou melhor, na sua cadeira exclusiva, na qual ninguém
se sentava sob o risco de não sei o que. Ditou mecanicamente a prelação
matinal.
De
repente começou a contar porque havia construído aquele lugar, o
INSTITUTTO. Falou sobre suas atividades acadêmicas, lembrou-se de sua
mãe. Do nada começou a narrar a última partida de futebol que jogou no
fim da infância. Ninguém acreditou naquilo. Seria uma peça, um texto
novo, uma pegadinha? Ele falava:
“Eu
adorava jogar bola, o futebol, era única coisa que meu pai elogiava em
mim, minhas qualidades de futebolista. Talvez por isso eu gostasse tanto
de bola e ainda hoje gosto. Estranhamente meu pai percebeu em mim, o
dia em que algo dentro mudou irreversivelmente, não sei como, mas ele
percebeu. Minha mãe somente percebeu muito tempo depois, pouco antes de
morrer.”
E seguia...
“Vocês
que me vêm hoje, não têm idéia do quanto eu jogava bem futebol. Apenas
eu, entre todos os moleques do bairro tinha uma bola de capotão, era
assim que se chamavam as bolas de couro e a minha durou anos. Todo fim
de jogo, eu a levava para casa, lavava e passava banha de porco, para
conservar o couro. Naquele tempo era um brinquedo tão caro e raro, que
muitos meninos ficaram meus amigos, somente em função dela. Da bola.
Olhem só, uma esfera de couro, cortada em gomos, com uma câmara
pneumática por dentro. Bendita invenção inglesa.”
Ele se levantou enquanto foi crescendo no entusiasmo, estava quase gritando:
“O futebol, me deu ritmo certo para andar sobre a terra.”
Nisso já havia abandonado o tom inicial, falava apologeticamente, gesticulava, pregava, já era ali um homem de deus. Seguindo:
“Foi
jogando futebol que ouvi pela primeira vez a voz da terra e seu
chamado. Ao ir de encontro aos corpos dos oponentes em campo, meninos
negros lindos, apenas garotos suados e puros, sonhei. Arcanjos de
carapinha faziam milagres entre traves e riscos no chão. Aprender
e sentir os limites do espaço e dos corpos que eles impunham no meu
caminho e principalmente experimentar a queda, era como poder ler de uma
só mirada todas as poesias bíblicas.
Nenhuma
lição prática e filosófica foi melhor de que ralar face no chão e
desfalecer na terra. Desfalecer com a face no chão e ver. Ver o mundo a
partir dos olhos mergulhados na poeira, bem ali com o corpo
esfrangalhado e os olhos rotos, rentes ao chão. Creio que foi essa
experiência crepuscular, entre a dor e o insucesso, uma quase-morte, que
me ligou definitivamente a terra e logicamente aos meninos.”
Silenciosamente pensamos: os meninos!??
“Sim,
os meninos. Uma oportunidade para eles, um lar, um lugar sem dor, onde
tivessem a chance de aprender e crescer. Os meninos são o sal da terra.
Falo
verdadeiramente do pó da terra, dos pedregulhos, das plantas rasteiras,
das arvores de galhos retorcidos e folhas grossas, essa dimensão da
savana e do serrado, entre a exuberância e ausência de água e de mata e
os seres humanos ali, mesmo depois de mortos. Falo sobre a terra, sobre
nós e as outras coisas que brotam e morrem na terra inclusive as
cidades, as idéias, as técnicas e as ideologias e os meninos.”
Estava
com os olhos cheios d’água quando parou. Ficou ali parado em pé, alguns
instantes se deixou cair no trono. E ficou assim tempos esquecidos meio
largado, quase imóvel.
Ninguém
de nós nunca havia pensado sobre isso, uma iluminação advinda de um
jogo de futebol. Estávamos extasiados. Era arrebatamento puro. Podia ser
um homem santo, um enviado no fim dos tempos para nos resgatar da nossa
insânia coletiva, como um anjo vingador.
Mas
algo me intrigava. Porque ele havia adotado aquela fachada de
intelectual engajado? Ao mesmo tempo era o que se pode chamar de um
grande homem de negócios, um tremendo empresário, um empreendedor, que
sabia negociar magistralmente seus inúmeros contratos, como ninguém ele
gostava de ganhar dinheiro. Percebíamos sem espanto, o quanto ele
gostava disso. Já vi com bolos de dólares. Ele se torna mais excitado,
amais ágil, mais falante, quase um moleque.
Com
tempo nos acostumamos com suas aparentes contradições. Sentava-se com
prefeitos, secretários de estado, ministros, reitores de universidade
públicas e privadas, nacionais e estrangeiras. Porque se deixava
fotografar entre agiotas, traficantes, juízes e políticos tão
francamente corruptos e acadêmicos sem expressão?
Dizia sempre:
“Nesse
país se você não se apresenta como empresário bem sucedido, ninguém,
ninguém mesmo te dá ouvidos ou te abre as portas. Precisamos das portas
abertas”! Usou como exemplo os grandes assaltos as joalherias e bancos
da cidade.
Pensei
então, é isso. Ele mantinha aquela estrutura e aceitava passivamente
ser caluniado como usurpador, demagogo, libidinoso e até mesmo bandido,
porque seu propósito era muito maior. Mas e os meninos, que será que ele
faz com os meninos e porque será que ainda mantém esta entidade tão
dispendiosa?
No
exato instante em que fazia secreta e silenciosamente tais perguntas,
ele se voltou para mim, exclusivamente para mim e fitando-me longamente,
com doçura e voz materna, disse:
“Se você tiver coragem para me fazer tais perguntas, prometo que responderei sinceramente cada uma delas.”
Entrei em desespero, gaguejei, abaixei os olhos e comecei a suar. Ele insistiu, chegou bem perto e disse:
“Acalme-se, hoje vou te dar a chance de desvendar todos os mistérios e dúvidas que
você alimenta internamente sobre meus propósitos, se ainda assim restar
alguma questão mal esclarecida, por mais tola e pequena que seja, você
será liberado para partir.”
Alguns exclamaram: partir?! Ele nem se deu conta da surpresa geral. Todos nos olhavam assustados e igualmente confusos.
Contudo, ele falava de tal maneira sedutora e acessível, que me deixou emocionado... E com medo.
Nunca
me passou pela cabeça, que alguém ou algo pudesse me impedir de partir
quando quisesse. Por outro lado, sabia que todos aqueles que estavam
ali, os mais recentes haviam chegado há pelo menos 20 anos. Todos sem
exceção passaram parte da vida como internos em educandários católicos e
foram escolhidos pessoalmente por ele, quando chegaram à idade de 16
anos. Todos
o idolatravam e fariam de tudo para não decepcioná-lo, embora seus
métodos de controle não fossem muito ortodoxos do ponto de vista
pedagógico. Ocasionando momentaneamente, medos, pequenas mágoas e
descontentamentos entre nós.
Quem
era afinal aquele homem? De onde veio e por onde andou? Quais eram suas
idéias, crenças e valores? Porque havia criado o Instituto após a morte
do poeta?
Sabíamos
que antigamente o poeta declarava abertamente que não gostaria que suas
idéias gerassem um novo credo ou uma nova escola.
Porque
ele havia recolhido os pertences do poeta pelo mundo e transformados
todos aqueles objetos de uso cotidiano e prático em relíquias santas?
Porque cobrava verdadeiras fortunas para traduzir textos do poeta?
Porque levou tantos adeptos do poeta a morte, ao silêncio ou à
proscrição?
Ele
encarcerou durante anos a última mulher e um filho bastardo do poeta em
um dos aposentos do Instituto. Ouvíamos gritos abafados de um dos
aposentos... Dizem que os dois vocalizavam palavrões piores que aqueles
aprendidos na terceira chapada, onde funcionava a casa de quengas. Sabe-se havia escondido os escritos eróticos do poeta, talvez os mais libertários. Principalmente
sabemos que aliterou os escritos mais ricamente poéticos do homem bom,
transformando-os em escrituras proféticas. Por fim roubou as ultimas
idéias do poeta e as reduziu a acrósticos.
A
liberdade que o poeta buscava por meio de um rigoroso exercício
reflexivo, extraído das relações humanas diretas, diálogos e
conversações não hierárquicas sobre a natureza do conhecimento a da
vida, ele transformou em filmes, hoje são revendidas no Instituto e
também em bancas de jornais, livrarias e lojas de conveniência de todo
país e mesmo no estrangeiro. Nós
e o mundo o víamos como um intelectual profícuo e homem de deus. Líamos
seus livros, teses, novelas e melodramas. Sua última preocupação era
com jogos digitais que queria adaptar a partir de contos populares
infantis.
Era
sobre isso que gostaria que ele falasse, mas não ousei inquiri-lo. Ele
exibia sempre fotografias de uma vida exemplar e um currículo imaculado.
Sua arquitetura personalista estava espalhada pelo Instituto, desde a
portaria até o terceiro andar, em todas as paredes do prédio tinham
imagens dele, sempre abraçado com o poeta ou celebridades.
O que sabemos sobre ele advém de biografias breves, releases publicadas na internet. Nasceu em São Francisco do Sul, litoral de Santa Catarina. Seus avos paternos eram de família oriunda da Itália, da região de Cilerito. Pelo que se sabe esse nome tem origens remotas, século XV, talvez.
Naquela noite não consegui dormir, fui assombrado pelo real perigo da excomunhão. Sair do Instituto.