com inveja de Espirito Santo, tenho me dado as poéticas:
Nosso amor
Só conheceu a seda no fim, quando agonizava.
Nas primeiras vezes que nosso beijo vingou
Havia pressa e medo
Desejo sem eira na beira da urbe.
Havia angustia demais.
Nem sei como amor pode brotar ali.
Insegurança e clandestinidade tanta.
Nosso amor era sem sobrenome conhecido
Só pode vir a lume, no limiar do dia
Posto que era amor feito de raiva e de fome.
Quando enfim deitou no linho de cânhamo
Ele foi lento, canábico e errante
Travesseiros de pena de ganso, sem quando.
Pra que?
Na maioria da vezes o amor que queremos abraçar,
Deve ser leve e lúcido,
O nosso não.
Veio em pé no ônibus, depressa e trêmulo.
Amor com letreiro Jardim Lucélia via Cocaia, Segunda balsa e Grajaú.
O amor dos outros era florido, cabelos soltos ao vento,
Amor de tão leve no cinema, quase bento, irmão sol, irmã lua..
O nosso veio meio sonolento
Depois de um dia de trabalho e quatro horas de aulas de literatura.
Catequese da professora em suas Marílias de Dirceu.
Amores já tão violentos de Gregórios epidermidos e tão ciumento dos mulatos.
Ao contrário deles
Nosso amor era operário
Terceirizado, pragmático e dividido
Feito de falta de tempo e salário.
Amor feito de míngua
Amor de hora marcada
E de relógio de ponto
Amor de café em barraca
De pinga pura e broqueis
De poemas perdidos de Cruz e Souza e canções samba-blues de Luis Melodia.
Amor festa na igreja do bairro
No parquinho de vila
Amor de bailinho black
Amor de brancos do cabelo ruim, querendo ser negros na quebrada.
Amor de lima Barreto,
Amor de negros retintos decepcionados com as irmãs claras dos anjos.
Amores cristianos e germanos demais.
Tão suburbanos amores e rudes Jones de Clara dos anjos.
Amor incapaz de ir além de canções de punhal de prata.
Amor que só sabe de cantigas negras de Katia de França
França negra vinda do norte,
Num gravador de k7 pago em prestações
Amor estrangeiro, feito de negações e preces de incréus
Na maioria das vezes nosso amor era confuso
Amor de pés na lama, ou limpando a casa no fim da semana.
Amor delicado e frágil
Amor tão bruto quanto maquinas da indústria farmacêutica
Amor de pabx
Avise a telefonista
Que palavra não morreu,
Mas o amor está hospitalizado.
Agora é vaga memória
Amor é antônimo de tudo que é jovem
Paixões que são talhadas na contenção dos carinhos
Então o Amor é só aquilo que sobra
Aquela energia resguardada apenas para o trabalho,
Amor de barro seco na sola dos sapato.
A primeira vez que o amor
Nos alcançou
Nos atracamos na grama
Entre carrapatos e arranhas
Depois vozerio dos parentes diante da tv.
Cama de campanha
Paixão de meia-água, desejo de meia légua
Casa de aluguel, mundo de quarto e cozinha
Nosso amor
Cresceu ao da sabor da arribação
Vestindo a roupa depressa e sem banho
Amor de dissidência e nunca tradicional
Amor sem raça pura
Nem cepa de sangue leal.
Sem mátria para descanso
Atravessou linhas de ferro
Correntezas e cordilheiras
Sem nunca ter saído daqui
Amor sem passaporte
Sem luxo, nem vintém
Amor que ainda vai andar pelos bairros
Quando nem mais amor houver.
Nem mesmo de ouvir falar.
Amor de resistência a morte por bala.
Amor de favela e escola.
Amor de impura brancura
Amor de afago bêbado e senzala.
Sobre Cralinhso
Nosso amor
Só conheceu a seda no fim, quando agonizava.
Nas primeiras vezes que nosso beijo vingou
Havia pressa e medo
Desejo sem eira na beira da urbe.
Havia angustia demais.
Nem sei como amor pode brotar ali.
Insegurança e clandestinidade tanta.
Nosso amor era sem sobrenome conhecido
Só pode vir a lume, no limiar do dia
Posto que era amor feito de raiva e de fome.
Quando enfim deitou no linho de cânhamo
Ele foi lento, canábico e errante
Travesseiros de pena de ganso, sem quando.
Pra que?
Na maioria da vezes o amor que queremos abraçar,
Deve ser leve e lúcido,
O nosso não.
Veio em pé no ônibus, depressa e trêmulo.
Amor com letreiro Jardim Lucélia via Cocaia, Segunda balsa e Grajaú.
O amor dos outros era florido, cabelos soltos ao vento,
Amor de tão leve no cinema, quase bento, irmão sol, irmã lua..
O nosso veio meio sonolento
Depois de um dia de trabalho e quatro horas de aulas de literatura.
Catequese da professora em suas Marílias de Dirceu.
Amores já tão violentos de Gregórios epidermidos e tão ciumento dos mulatos.
Ao contrário deles
Nosso amor era operário
Terceirizado, pragmático e dividido
Feito de falta de tempo e salário.
Amor feito de míngua
Amor de hora marcada
E de relógio de ponto
Amor de café em barraca
De pinga pura e broqueis
De poemas perdidos de Cruz e Souza e canções samba-blues de Luis Melodia.
Amor festa na igreja do bairro
No parquinho de vila
Amor de bailinho black
Amor de brancos do cabelo ruim, querendo ser negros na quebrada.
Amor de lima Barreto,
Amor de negros retintos decepcionados com as irmãs claras dos anjos.
Amores cristianos e germanos demais.
Tão suburbanos amores e rudes Jones de Clara dos anjos.
Amor incapaz de ir além de canções de punhal de prata.
Amor que só sabe de cantigas negras de Katia de França
França negra vinda do norte,
Num gravador de k7 pago em prestações
Amor estrangeiro, feito de negações e preces de incréus
Na maioria das vezes nosso amor era confuso
Amor de pés na lama, ou limpando a casa no fim da semana.
Amor delicado e frágil
Amor tão bruto quanto maquinas da indústria farmacêutica
Amor de pabx
Avise a telefonista
Que palavra não morreu,
Mas o amor está hospitalizado.
Agora é vaga memória
Amor é antônimo de tudo que é jovem
Paixões que são talhadas na contenção dos carinhos
Então o Amor é só aquilo que sobra
Aquela energia resguardada apenas para o trabalho,
Amor de barro seco na sola dos sapato.
A primeira vez que o amor
Nos alcançou
Nos atracamos na grama
Entre carrapatos e arranhas
Depois vozerio dos parentes diante da tv.
Cama de campanha
Paixão de meia-água, desejo de meia légua
Casa de aluguel, mundo de quarto e cozinha
Nosso amor
Cresceu ao da sabor da arribação
Vestindo a roupa depressa e sem banho
Amor de dissidência e nunca tradicional
Amor sem raça pura
Nem cepa de sangue leal.
Sem mátria para descanso
Atravessou linhas de ferro
Correntezas e cordilheiras
Sem nunca ter saído daqui
Amor sem passaporte
Sem luxo, nem vintém
Amor que ainda vai andar pelos bairros
Quando nem mais amor houver.
Nem mesmo de ouvir falar.
Amor de resistência a morte por bala.
Amor de favela e escola.
Amor de impura brancura
Amor de afago bêbado e senzala.
Sobre Cralinhso
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