“EU NÃO CONSIGO RESPIRAR”, GEORGE FLOYD
Em meados do século XIX, dois franceses, os irmãos Edouard e Jules Verreaux, viajaram à África do Sul em busca de uma coleção de animais exóticos que seriam exibidos na Europa. Nesse período, a fotografia ainda não havia sido inventada, e a única maneira de resolver a curiosidade dos europeus era, além da pintura, a taxidermia (técnica de empalhar animais mortos). Outra opção era levar os animais vivos aos zoológicos.
Os irmãos voltaram para França e organizaram uma exposição. No museu, os visitantes observavam elefantes, rinocerontes, macacos e girafas. Na exposição, porém, não poderia faltar um negro. Foi o que fizeram: Edouard e Jules aplicaram a taxidermia ao cadáver de um homem negro e o expuseram, de pé, numa movimentada rua de Paris; tinha um escudo numa das mãos e uma lança na outra.
O museu dos irmãos Verreaux faliu anos depois, mas eles venderam a coleção, incluindo o africano, para um zoológico de Barcelona. Em 1916, Frances Darder, antigo diretor do zoológico, abriu seu próprio museu em Banyoles, na Espanha.
Os irmãos voltaram para França e organizaram uma exposição. No museu, os visitantes observavam elefantes, rinocerontes, macacos e girafas. Na exposição, porém, não poderia faltar um negro. Foi o que fizeram: Edouard e Jules aplicaram a taxidermia ao cadáver de um homem negro e o expuseram, de pé, numa movimentada rua de Paris; tinha um escudo numa das mãos e uma lança na outra.
O museu dos irmãos Verreaux faliu anos depois, mas eles venderam a coleção, incluindo o africano, para um zoológico de Barcelona. Em 1916, Frances Darder, antigo diretor do zoológico, abriu seu próprio museu em Banyoles, na Espanha.
Em 1991, Alphonse Arcelin, médico haitiano, visitou o Museu Darder. O homem negro reconheceu o homem negro. Pela primeira vez, aquele morto mereceu empatia. Revoltado, Arcelin botou a boca no mundo - era véspera de abertura dos Jogos Olímpicos de Barcelona. Conclamou os países africanos a boicotarem o evento. O próprio Comitê Olímpico interveio para que o cadáver fosse retirado do museu.
Terminadas as Olimpíadas, a população de Banyoles voltou ao tema. Muitos insistiam que a cidade não deveria abrir mão de uma tradicional peça de seu patrimônio cultural.
Alphonse Arcelin mobilizou governos de países africanos, a Organização para a Unidade Africana e até a ONU. Vendo-se em apuros, o governo espanhol decidiu devolver o morto à sua terra de origem. O negro foi descatalogado como peça de museu e, enfim, reconhecido em sua condição humana. Mereceu enterro digno em Botswana.
Da Argentina ao Canadá, parcelas significativas da população acreditam que racismo é vitimismo. Tratam a questão como se ela não existisse; negligenciam, tal qual o homem negro inerte na vitrine, empalhado em sua própria miséria.
Prezado George Floyd, em Buenos Aires, São Paulo, Rio de Janeiro, Caracas, Bogotá, Manágua, Cidade da Guatemala, Minnesota, Atlanta, Maryland, Ottawa, Toronto....milhares de negros também não conseguem respirar, estão sufocados pelo racismo taxidermizado das Américas.
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